O CUMPADRE E A MENTIRA VERDADEIRA

- Conta um causo aí cumpade!

- Tô meio sem assunto.

- Conta a do Zeca Lamboso!

- Quelalá é mais véia que cumixão de cachorra sô!

- Mais tem gente que nunca iscutô!

- Antão ta bão, vai lá... “O Zeca era daques cabra vistoso, bão de prosa, bão de causo. Em toda festança do lugá, ele tava sempre rodeado de gente rindo dos causo dele. Ficô tão afamado que cumeçô a inventá história, contá mintira...

Teve um dia quinóis tava tudo lá na casa do cumpade Firmino, dano mutirão pra inrestiá os aio dele quando o Zeca apareceu na istrada. O cumpade chamô ele pra contá uma mintira e respondeu qui num pudia não, tava cum munta pressa.

- Caos de quê? Gritava o cumpade.

- Tenho que i no velório do padre! Gritou o Zeca sumindo na curva da estrada.

Foi um fuzuê danado. O cumpade feiz pará o mutirão. Todo mundo pra suas casas, muié pos banho, home nos riberão memo, boiada pega dipressa pra carregá os mais perrengue. E quilo isparramô cumo se todo mundo tivesse telefone. Naquela tarde a istrada rumo à vila foi tomada pruma procissão de carros de bois, beatas de preto, homens com sua vistimenta principar...

Na entrada da Vila tinha um buteco pra variá onde o Zeca istava. Fala as língua pió que do outro lado do mar, em cada pedaço de cidade tem um lugá de vendê livro; da nossa banda in cada quatro casa tem um buteco. Fazê o quê né memo? Diz que quando o Zeca viu a primera boiada apontano na curva da istrada inté rolava no chão de tanto ri. Na frente ia a famosa boiada roxa do coroner Bastião. Home de posses, revorve na cintura... Parô pra tomá uma pra refrescá a goela e priguntô pro Zeca por causa de quê tava rino daquele jeito, já que o vigário tinha morrido.

- Ara. Rispundia o Zeca tremendo. Me pidiram pra contá só uma mintirinha...

- O quê? Gritava raivoso o coroner arrancano o revórve da cintura. Nessas artura do campeonato inté as beatas atiravam seus terços no incurralado Zeca, indignadas com tanta reza pirdida. Tava o Zeca de joelhos, pidino perdão, o povo gritano pro coroner puxá o gatilho quando apareceu um cabra a cavalo gritano ao sete purmão que o padre tinha morrido.”

- Ufa cumpade, tava inté lá cum dó do tar do Zeca...

- Nunca mais falô mintira...

- Tamém né, dispois dessa!

- ...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 27/05/2012
Código do texto: T3690653
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