O HOMEM TATU E A CISTERNA

Todos nós sabemos que a água é o bem mais precioso que Deus nos concedeu. É o mais importante elemento na biodiversidade universal, se a natureza é vida, a água é a vida da natureza. No entanto os homens estão pretendendo meter a mão, monopolizando este precioso liquido, criando mais uma forma de onerar a população, cobrando pelo uso da água que corre livre e é gratuita, uma dádiva divina, que brota do ventre da terra saciando a sede. Hidrogenizando o ar que respiramos vital e acessível a qualquer vivente do planeta. Criar leis de preservação ambiental, protegendo os cursos, nascentes e mananciais, é um procedimento correto e mais do que justo, Mas cobrar pelo o uso da água que é um bem doado por Deus...?

Atualmente com a evolução técnica, o sistema de captação da água facilitou a vida de maneira bastante satisfatória. No passado obrigatoriamente as residências e arranchações teriam que ser instaladas ás margens de cursos d’água, em sua maioria locada em áreas de difícil acesso. A partir da descoberta da cisterna, embora ainda de forma trabalhosa, houve uma mudança significativa. As moradias passaram a ser construídas em locais mais adequados facilitando a acessibilidade de seus ocupantes.

As duas primeiras cisternas construídas no Vale picão, foi em 1913, por ocasião de uma seca violenta, acarretando grande sofrimento aos habitantes da região do então Bom Jardim do Picão, atual Engenho do Ribeiro. Chegando a secar o rio picão e seus afluentes. Um matuto que viera da região de Morada Nova de Minas deu uma noticia afirmando que um homem tatu, seu conterrâneo, perfurava chão adentro até encontrar água. Ninguém deu credito, desdenharam do caipira. Barão que se dizia o manda chuva do Bom jardim, numa prosa severa, impondo sua autoridade ordenou que o matuto fosse buscar tal homem tatu, com pena de apanhar se estivesse mentindo. Foi uma grande descoberta embora poucos tivessem recursos financeiros para bancar o custo desta mão de obra.

A descoberta solucionou um grande problema. Foi perfurada uma cisterna para o Barão, donde hoje situa o sitio do Bróca, e outra para seu enteado Sidôgo, pai do Cintico, à margem do córrego do Rasgão. Há pouco tempo alguém teve a infelicidade de entupir a cisterna do Barão, ficando a do Sidôgo que em seus 99 anos de existência resistiu todas as secas mantendo sempre o mesmo nível de água farta e saudável.

Havendo escassez de chuvas, as águas também se tornam escassas, dificultando sua capitação em cisternas, surgindo à necessidade em perfurar mais, (dar fundo na linguagem do homem do campo). Pois bem veja o que ocorreu com meus amigos, aliás, parente bem próximo. Bilão o filho mais velho voltou acompanhado de dois irmãos e um cunhado, ao sitio da mãe, viúva, mais brava que pimenta malagueta, a velha estava sem água na cisterna, devida à seca.

Residente numa casa construída no ano de 1842 pelo tri avô do falecido marido. Os filhos mudaram para BH em busca de emprego e melhores condições de vida. Retornaram atendendo a ordem da velha para dar fundo na bendita cisterna. O cunhado se dizendo cisterneiro, examinou corda e sarilho contatando que estava tudo em ordem, em perfeita condição de uso, desceu os vinte metros do poço, e começou logo o trabalho de limpeza. Muito detrito, baldes velhos, pedaços de madeiras, ferro velho usado como pêndulos para facilitar a inclinação de baldes na capitação d’água, uma série de objetos caídos ao longo dos anos foram retirados.

- Bilão era o sarilhêiro ou doubrador, como queiram, suando mais que tampa de marmita revezava essa responsabilidade como os dois irmãos. Na medida em que o Zezinho cavoucava, a corda se tornou curta. A velha ordenou à compra de mais alguns metros ao filho Neneco. Na ocasião eu iniciava minha atividade comercial, no local aonde me encontro até o momento, trabalhando com uma diversidade de produtos, incluindo bebidas tira gosto etc. havia também uma mesa de sinuca. Nenéco entrou no estabelecimento pedindo-me uns tantos metros de corda, eu o atendi. Antes de sair ele foi até á sinuca cumprimentar dois amigos que jogavam e há tempos não se viam. Voltou ao balcão pediu-me um copo e agarrou no gole, uma cerveja, outra, e mais outra. Bem mais logo, vem o outro irmão esbravejando; - Nenéco seu irresponsável! A mãe ta qui ta cuspindo marimbondo, uma fera! E ocê ai agarrado na cerveja, cadê a corda? –Ta por ai pode levá! –Ah me dê logo um copo tamem! Agarrou-o também no gole. Uma hora depois chega o Bilão; --cadê os irresponsáveis de meus irmãos? – Na sala de sinuca -, respondi! Ele deu uma bronca danada dizendo; - a mãe ta uma arara, me arruma um copo e uma cerveja vô toma um a tamém, e agarrou no gole. Mais tarde o sol já bem vertido ao poente chega à velha. –Oh cambada de irresponsave oceis qué; qui ieu quebro oceis de pau--, O Zezinho Ta La dentro da cisterna Ca água quais no pescoço, oceis agarrado nos copo, vai traia-, dê um jeito de tirá ele La de dentro, cambada; ta quereno mata o home?

- Uai mãe sele morrê vai cê o interro mais barato qui nois já viu; é só metê terra inrriba num vai gasta velóro nem caixão!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 30/07/2012
Reeditado em 16/03/2017
Código do texto: T3804374
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