O Caso de Formiga

Aos colegas do Foro de Formiga, que recebem

As visitas com a verdadeira hospitalidade mineira.

Reza a lenda que o nome de Formiga – a belíssima cidade mineira erguida numa antiga passagem de bandeirantes, escravos e quilombolas - se originou em decorrência da denominação dada ao rio que corta a cidade, o Rio Formiga.

Conta a tradição popular que um bando de tropeiros teria feito uma parada à beira do referido rio e que durante a noite o seu carregamento de açúcar fora atacado por milhares de formigas, sendo o rio então nomeado com este nome.

Outras versões dizem que o nome da cidade teria sido arranjado por Inácio Correia Pamplona. Este teria equiparado os penedos da belíssima região mineira aos Ilhéus das Formigas, nos Açores. Além destas, ainda corre uma terceira versão que informa ter sido o Rio Formiga batizado por índios e escravos que percorriam a região nos tempos do Brasil-Colônia e da mineração do ouro.

Seja como for, o fato é que a atual cidade de Formiga é bastante tranquila, convidativa e hospitaleira e conta, além disso, com a presença de belas e educadas jovens.

Porém, os oficiais de justiça e outros funcionários do Foro trabalhista de Formiga afirmam categoricamente que a cidade possui ou deveria possuir outra denominação, esta decorrente da forma popular de dar um apelido ou um nome mais correto tanto para as coisas (os objetos) quanto para as pessoas.

Eles dizem que formiga é em muitos sentidos a cidade dos contrários e que ali tudo é de fato contrário e contraditório. Como exemplos, informam que a família de Tião Marcha à Ré é das mais bem afortunadas e bem sucedidas de toda a região, apesar do nome inverso. E que o cidadão batizado singularmente com o nome de “Zé Progressista” só faz mesmo é andar pra trás: enquanto seus irmãos vão todos bem de vida, Zé Progressista vai lambendo e roendo embira.

Que – estranhamente! - o prédio mais alto da cidade chama-se Edifício Neném. Que um popular bastante conhecido recebeu dos cidadãos o apelido de “Boa Vida”. Mas que de boa vida ele não tem é nada: além de trabalhar de manhã na cansativa lida de carroceiro, toda noite faz uns bicos como pipoqueiro em frente à Igreja da Matriz de São Vicente Férrer. De boa vida, portanto, como se pode ver, ele não tem é nada mesmo.

Que o ilustre advogado Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, apesar do nome, é loiro e de olhos azuis. E - como não poderia deixar de ser - que o Alemão da rodoviária e o Louro (Lourival) do Banco do Brasil são ambos negros.

Dizem que o apelido correto para o “Zé Tonelada” – possuidor de um trailer de bebidas e churrasquinho localizado na região central da cidade - deveria na verdade ser “meio quilo”, dada a sua magreza e transparência física. E que enquanto o “Zé Grande” tem pouco mais de um metro e cinquenta centímetros de altura, o “Zé Pequeno” tem na verdade mais de dois metros.

Que certo padre da cidade nunca teria de fato rezado uma única missa e que determinado médico denominado popularmente pelo nome de “Doutorzinho” jamais aviara qualquer receita em toda a sua pacata existência interiorana.

Que o “Zé Muiezada” herdou o apelido do pai, mas que jamais fora visto com mulher alguma pelas ruas da cidade.

E que o “Bonito” não tinha mais onde ser feio. E, graças a Deus – todos afirmam e confirmam num coro só! - ele se mudou de mala e cuia pra São Paulo, levando consigo o seu porte desengonçado e a sua feiura.

Pois é – amigos, colegas e companheiros de Formiga: assim é a vossa cidade dos contrários e do contraditório, como toda a cidade humana cheia de desejos, contradições e mistérios. Eis aqui um pouco mais de Minas e do município de Formiga, conhecida também como o berço natal de Dona Beja, a cidade das “Areias Brancas” e a “Princesa do Oeste”.

Como homenagem final e especial aos colegas e amigos do Foro e das varas trabalhistas dessa cidade, deixo registrado nessa folha o Hino de Formiga, com música de Francisco Fonsêca e Letra de Ruy Peirão.

Óh Formiga a quem tenho tanto amor

Nos teus campos de rara beleza

Tu confirmas com todo esplendor

Que d'oeste tu és a princesa.

Já é glória nascer brasileiro

Há porém quem feliz assim diga

Meu orgulho maior é ser mineiro

E mineiro nascido em Formiga.

O teu povo é feliz no labor

No trabalho fecundo e na paz

E por isso repete com ardor

És orgulho de Minas Gerais.