TIROS NA FACE...

Theo Padilha

No embalo de minhas histórias quero contar mais uma. Esta aconteceu no litoral paranaense. Na cidade de Matinhos. Por volta de 2004. Eu trabalhava na cidade de Guaraqueçaba, no mesmo litoral. E como andava meio doente, achei melhor mudar de ares para uma cidade mais populosa. Tudo bem. Consegui minha remoção e lá fui. Gostei muito de minha nova escola. Todos os professores eram gente boa. Os alunos um encanto. Uma escola nova. Achei que era ali o meu lugar. Preparei-me muito bem e comecei um ano letivo com toda força.

Como fui morar numa pousada, no Jardim Perequê, próximo de minha escola, achei melhor encontrar uma casa para alugar e comecei a trocar ideias com o pessoal da escola, inclusive com alunos. Era meu desejo levar minha família toda para passar dias comigo por ali. Até que uma aluninha me falou:

─ Professor, minha mãe tem parte de um apartamento para alugar!

─ Onde fica, Janete?

─ É bem perto de onde o senhor mora!

Fiquei muito contente com aquilo. Ela me passou o telefone da mãe, e imediatamente liguei para aquele número.

─ Bom dia! Sou professor de sua filha e ela me disse que a senhora tem um quarto para alugar, é verdade?

─ Sim é verdade! – respondeu-me aquela voz rouca e aparentando certa tristeza. Achei que era uma senhora de idade. Talvez fosse avó de Janete.

Marquei o dia e fui ver o apartamento. O lugar era muito lindo. Bem na beira do mar, como eu queria. O preço era muito barato. Eles usariam a parte de baixo e eu moraria na parte de cima. Não tive dúvidas mudei-me para lá. Fui recebido pela mãe de Janete e seu irmãozinho caçula. Deise era uma linda mulher. Alta, loira, de olhos verde e muito jovem. Como não sou de fazer muitas perguntas, nem perguntei se ela era casada. E assim fui lá morar naquele apartamento mobiliado. Tinha até TV. Todo dia eu ia para a escola junto com as suas crianças. Mas quase não via a Deise. Fiquei sabendo que ela tomava conta de um motel à noite e de dia trabalhava numa imobiliária. Ela me disse que estava em dificuldades para pagar o apartamento. E aquilo me causou muito dó. Sempre eu levava lanches para suas crianças. E dividia com eles as minhas guloseimas.

Como eu sempre frequentava os botecos do bairro, não demorou muito em ficar sabendo que o marido de Deise estava preso por latrocínio. Contaram-me que ele morria de ciúmes de sua mulher. Até que um dia ele soube que ela o havia traído, e mandou outro bandido matá-la. Esse bandido disparou o revólver à queima roupa no rosto de Deise. A mulher levou quatro tiros na face. Na boca. Só que não deixou nada de sequelas. Não sei como. Ela continuou com um rosto perfeito. E o pessoal do bar me assustava.

─ Cuidado. Quando ouvir um barulho de carro se esconda!

Mas nunca aconteceu nada. Fiquei lá um ano e nada aconteceu.

Joaquim Távora, 10 de agosto de 2012. By Theo Padilha©.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 10/08/2012
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