Finalmente parou de beber

A história que vos conto
É de Severino conhecido como Biu do Norte,
Cabra valente, destemido e forte,
Mas fraco para o vício de caneiro.
Certo dia, depois de um dia inteiro,
Severino juntou um pouco de coragem e um tanto de dinheiro,
Comprou uma caixa de Pitú e saiu sem ter dia pra voltar,
Montou na chibanca ano 74 puxada pela égua Melindrosa,
Andou uma légua e meia pro lado da roça sumindo no meio dos bois.
Pra festa da padroeira sem hora pra devoção lá Severino se foi.
Isso era quarta-feira quinze prás quinze do dia 15 de novembro, Feriado nacional.
Passou quinta, domingo e segunda veio e achou o Severino desesperado e meio, cuspindo no vento e dando coice na sombra, o trem tava feio:
Onde que eu tô? gritava arregalado.
O pobre Biuzinho que saiu de casa solteiro e acordado,
Agora acorda doido e casado.
Mas como isso se deu? Tentava se acalmar nas brenhas do desespero seu
Nessa hora perante Nossa Senhora se deu conta
Da cachaça que tomou de conta e o porre se reverteu,
Olhou pra cama e viu o tamanho do compromisso.
E gritou: lhe juro por padre Cisso!
Minha senhora se lhe fizeram alguma coisa, não fui eu!
Rozenda a sargenta de polícia que era só alegria, somente ria com a boca quase nua, salvo por dois dentes que ainda tinha:
Um pra abrir garrafa e outro pra embolar farinha.
Disse com voz de delegado, venha se deitar seu cabra desorientado.
Severino com fama de valente, tomou-lhe uma bofetada na lata reluzente
Que a marca da palma da mão de Rozenda ficou escaneada,
que depois de dois dias Bilu, que tinha fama de cigana
leu a sorte da sargenta na fuça de Severino ainda avermelhada.
A fama da Sargenta era de bicha perigosa, e fera muito rixenta,
Com os pêlos saindo nas ventas, e o uns fios no queixo de barba dura.
Seu o perfume era o natural: CC lavanda da Inhaca de feiúra.
Mas Severino no alto da valentia tudo já consentia no seu finado casamento,
Naquela lua de merda padecia, já pensando nas bôdas do sofrimento.
Era um delírio sem precedente.
Se beliscava, mordia a ponta da língua e lembrava da aguardente:
Será que fiz algum mal nessa vida? Lembrou que um dia machucou a égua Melindrosa, mas logo ela se refez.
Pensava isso é castigo ou a minha biela bateu de cruzeta
ou bêbado caí na sarjeta e meu juízo virou de vez.
E tome solavanco outra vez, Rozenda lascou um beijo tinindo
O pobre do Severino quase sem força caíndo
O corpo ali parado, mas a alma do pobre fugindo.
Ela disse: vem meu benzinho pra gente fazer um calamengau.
Severino disse: olha dona pra mexer esse mingau
Vais precisar de umas dez colheres de pau.
Rozenda abriu a sua braguilha, mexeu na virilha e nenhum manifesto.
Nervosa e sem paciência deu-lhe um sopapo de protesto,
Veio a ordem: levanta o bixigoso que hoje vai ter gôzo e o que sobrar é resto.
O pobre do Severino acuado e sem esperança.
Dizia, isso só pode ser vingança ou praga lazarenta,
Mirou bem a janela do quarto e disse no chão eu me parto
Mas num durmo com essa jumenta.
Decidido e de olho fechado pulou do segundo andar
Esperando o baque chegar,
O peito frio e o medo da morte, Biu do Norte num susto medonho,
Desperta da lombra da cana, era um sonho!
Ligeiro se coloca de pé e na chama da fé, feliz se põe a clamar:
E promete e repete pra Santo Antônio,
Dizendo: eu morro solteiro e sem matrimônio,
Mas dessa cachaça não volto a tomar.