MORCEGOS NA IGREJA

A Matriz de Monjolo a tempos precisava de uma reforma. Padre Julinho fazia o que podia pra ir remendando com um paliativo aqui e outro ali até que empreendeu uma campanha junto aos fieis e por longos quatro anos deu-se a tal reforma. Cada fiel contribuiu com um tijolinho. Fez-se quermesse, bingo, lista de doações e tudo quanto pode ser feito para o empreendimento da reforma da Matriz.

Findado as obras, a Diocese ficou sem bispo e como Padre Julinho queria uma reinauguração da Matriz com todos os atos solenes inclusive com a presença de sua Excelência Reverendíssima achou por bem aguardar a nomeação de novo bispo que diziam rumores não tardaria. A reforma da igreja custou suor, lágrimas e devoção. Merecia ato solene para sua abertura agora inteiramente nova outra vez.

De nada adiantaram os conselhos dos colegas de clero, do povo, do prefeito que desejava a reinauguração como ato de sua campanha de reeleição e de quem mais achasse que deveriam deixar de lado a presença de um bispo para a reinauguração. Padre Julinho era firme na decisão, não dava o braço a torcer, queria bispo, banda, sermão, Te Deum e incenso.

Contudo não era esse o único impasse de Padre Julinho. Na Igreja tudo cheirava a novo, exceto o ar poluído pelos morcegos. Reformou-se a igreja, trocou-se o telhado e o forro, mas os morcegos antigos moradores da Matriz não se foram com os entulhos da reforma.

Enquanto o seu lobo não vinha, ou melhor o “Seu Bispo” não vinha a igreja mantinha-se fechada e Padre Julinho investia todas as técnicas, simpatias e sugestões populares para expulsar os moradores sanguessugas da Matriz. Pôs veneno no forro, queimou pano e enfumaçou o ambiente, ascendeu as luzes por 24 horas, instalou aparelho com ruído que incomodava os morcegos e nada. Sumiam por um dois dias e logo logo voltavam a antiga morada. Por fim benzeu, fez novena pra São Francisco, jogou água benta e até rogou praga, mas as pragas voadoras continuaram indiferentes.

O tempo foi passando, os morcegos continuaram insistindo em ficar e a Santa Sé nomeou novo bispo. Não tardou, e a pressão popular fez por que fez Padre Julinho marcar com o novo bispo data mais próxima possível para a grande reinauguração e benção solene da Matriz. Não podendo fugir dos clamores do povo e até mesmo porque já se proscratinara demais a tal benção marcaram a data. Com o agendamento, Padre Julinho intensificou a guerra contra os morcegos. Contudo até as vésperas da solene reinauguração as pestes dos morceguinhos lá estavam com ares de daqui não saio daqui ninguém me tira.

Já meio desesperado e já arrancando os poucos cabelos que ainda lhe restavam foi o Padre até a venda de João Mariano e comprou uma caixa de rojões e num desespero soltou-os todos de uma só vez dentro da Matriz o que lhe fez um belo arrombo no forro e telhado. Os morcegos todos saíra em desespero. Embora danificando o telhado Padre Julinho deu-se por satisfeito pois afinal eles foram-se todos e no dia seguinte chegava O bispo e sua comitiva para a cerimônia.

No dia em questão a cidade estava em festa, banda tocando o povo reunido na praça para em grande pompa receber o bispo que daria a benção solene durante a missa de reinauguração da reformada Matriz. E para o desespero de Padre Julinho voltaram os morcegos bem a hora da benção final. Em prantos ao ver os bichinhos pensou o bispo e o povo em geral ser a emoção da celebração a causadora de seus sinceros prantos.

Já na casa paroquial para o jantar pomposo da ocasião, indagado que foi pelo bispo de seu copioso pranto às palavras finais Padre Julinho desabafou com seu Pai espiritual. Sabendo do problema dos morcegos fez o bispo papel de pai e aconselhou o Padre na resolução dos problemas.

Findados os festejos e finalmente reaberta a matriz notou o povo que realmente os morcegos após a passagem do bispo tinham sumidos. Não tardou e a curiosidade do povo em geral chegou ao Padre por uma das beatas que teve resposta com tamanha satisfação do reverendo.

_O bispo por sua experiência deu-me valioso conselho na resolução deste problema.

_Mas que conselho foi esse Padre Julinho?

_Muito simples Dona Mariquinha. Dei um diploma de crisma a cada um deles. Sumiram todos da Igreja...

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 12/09/2012
Reeditado em 26/06/2021
Código do texto: T3877499
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