A MULHER QUE VIRA PEIXE

SÉRIE: “ CONTOS E CAUSOS DO NORDESTE ” – P/Charles Silva

Conto Nº 6 de 20

Título: "A MULHER QUE VIRA PEIXE "

Viajavam pelas estradas do sertão do Moxotó, um muito bem sucedido empresário e o vice-diretor de uma de suas empresas. Depois de horas de viajem por estradas de barro batido, passavam por um pequeno povoado a beira da estrada. Uma placa de sinalização a margem da estrada informava o nome do pequeno lugarejo; "SÃO JOSÉ DOS SABIDOS". Esse era o nome do lugar. Ao ler a placa o empresário achou estranho o nome - "SÃO JOSÉ DOS SABIDOS" - O empresário então comentou com seu assistente que também dirigia o veículo em que estavam. Disse ele: "MAS QUE NOME DE LUGAR É ESSE? SÃO JOSÉ DOS SABIDOS". E os dois caíram numa sonora gargalhada.

Poucos metros após ter passado pelo pequeno povoado, um dos pneus do veículo estourou. Tiveram que parar o veículo. Aos descer do veículo, investigando o porta malas, descobriram que o pneu de estepe estava sem ar completamente. - " E AGORA? - questionou o empresário para seu assistente. - O assistente respondeu: "TEM UM POVOADO ALI. VAMOS VER SE CONSEGUIMOS UM BORRACHEIRO LÁ." - "A SIM." - Respondeu o empresário - "É O SÃO JOSÉ DOS SABIDOS" - Disse e continuou. - "VAMOS LÁ CONSEGUIR UM SABIDO PRA RESOLVER NOSSO PROBLEMA." - Os dois riram bastante e caminharam alguns metros até o povoado.

Ao chegar no povoado avistaram um pequeno casebre de madeira com uma pequena placa: "BORRACHARIA". Caminharam então até lá, mas ao chegarem, constataram que estava fechado. Ao lado da pequena borracharia havia um pequeno bar, então resolveram entrar para saber se podiam encontrar alguém que os pudesse ajudar.

Dentro do pequeno bar havia seis pessoas bebendo e um senhor encostado no balcão conversando com o dono do bar, que estava do lado de dentro do balcão. O empresário abordou o dono do bar sobre o borracheiro, o dono do bar respondeu que o tal borracheiro morava a meia hora de caminhada dali, mas podia arranjar alguém local para ir a sua casa chamá-lo para resolver a emergência. Os dois concordaram em esperar ali mesmo. Então se sentaram perto do balcão para aguardar a vinda do borracheiro.

O empresário começou uma conversa com o senhor que estava encostado no balcão, dizendo-lhe: "MAS ME DIGA SENHOR, PORQUE O NOME DESTE LUGAR É SÃO JOSÉ DOS SABIDOS?” - Indagou o empresário. - "OLHE MEU SENHOR" - Respondeu e continuou. - "É PORQUE O POVO DAQUI É TUDO SABIDO NUM SABE". - Concluiu. - "MAS COMO ASSIM SABIDO?" - Questionou o empresário. - Então o senhor encostado no balcão disse-lhe: "O SENHOR NÃO ACREDITA? PODE CRER QUE É VERDADE. O POVO DAQUI É MUITO SABIDO MESMO." - Disse o Senhor encostado no balcão. - "NÃO POSSO ACREDITAR NUMA COISA DESSAS" - Disse o empresário. - "O SENHOR NÃO CRER? POIS OLHE, AQUI O POVO É TÃO SABIDO QUE TEM ATÉ UMA MULHER QUE VIRA PEIXE." - Disse o senhor. - "O SENHOR SÓ DEVE ESTAR BRINCANDO." - Disse o empresário. - "NUM TÔ NÃO SENHOR" - Disse o senhor encostado ao balcão. - "ELA VIRA PEIXE NA FRENTE DE TODO MUNDO. MAS O POVO DAQUI É TÃO SABIDO QUE JÁ ESTÃO ACOSTUMADO COM ELA VIRANDO PEIXE. NEM LIGAM MAIS." - Disse o senhor do balcão. - "ESSA EU PAGO PRA VER" - Disse o empresário. - "O SENHOR NUM APOSTE NÃO QUE O SENHOR VAI PERDER." - Disse o senhor ao balcão. - "TÁ BOM. APOSTO CEM REAIS QUE ISSO NÃO É VERDADE. COMO PODE SER UMA MULHER VIRANDO PEIXE. TÁ APOSTADO CEM REAIS. - Disse o empresário. - Pegou sua carteira no bolso e tirou uma nota de cem reais e colocou em cima do balcão. O dono do bar disse: "SENHOR NÃO APOSTE NÃO QUE O SENHOR VAI PERDER. A MULHER VIRA PEIXE MESMO." - "ESSA EU QUERO VER. PODE GUARDAR O DINHEIRO. AGORA ME MOSTRE A MULHER VIRANDO PEIXE." - Disse o empresário. O dono do bar então disse: "OLHE SE O SENHOR QUISER APOSTAR APOSTE, MAS SE APOSTAR MESMO EU NÃO VOU DEVOLVER O DINHEIRO SE O SENHOR PERDER. TÁ CERTO? – Disse o dono do bar. - "CLARO QUE ESTÁ" - Disse o empresário.

O dono do bar disse: "TUDO BEM EU VOU PEDIR AO MEU AMIGO AQUI - (o senhor que estava encostado no balcão) - PARA LHE MOSTRAR. TÁ CERTO?” - "SIM. VAMOS LÁ. EU QUERO VER ESSA MULHER VIRANDO PEIXE. VAMOS LÁ" - Respondeu o empresário. - Os três saíram do bar caminhando até o centro da pequena praça. Chegando lá encontraram uma mulher sentada diante de um pequeno tabuleiro. Ao lado dela havia um pequeno fogão de barro que funcionava com carvão e uma enorme frigideira em cima do mesmo. O que a mulher vendia era peixe assado.

- "CADÊ A MULHER QUE VIRA PEIXE?" - Perguntou o empresário. O senhor que os acompanhava disse: "DONA SEFA ASSE UM PEIXINHO AQUI PRO CIDADÃO. E VEJA PRA QUE FIQUE BEM ASSADO DOS DOIS LADOS". - "SIM SENHOR." - Respondeu dona Sefa.

A mulher então começou a assar um peixe. De quando em vez ela realmente virava o peixe para que este assasse por igual nos dois lados.

O Empresário e seu assistente se olharam desolados e saíram dali sem demora. Mesmo com um dos pneus furados, entraram no carro e seguiram viajem sem dar uma palavra um com o outro. Esse é o conto da MULHER QUE VIRA PEIXE.

P/Charles Silva.

CharlesSilva
Enviado por CharlesSilva em 24/09/2012
Reeditado em 10/05/2019
Código do texto: T3898663
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.