Intriga em Pendura Saia

Seu Isidoro saiu de sua fazenda que distava de Pendura Saia três léguas, para ter um dedo de prosa com seu Bento, pois seu filho Vicente iria começar a trabalhar na prefeitura e não queria ir a pé, nem a cavalo para Pendura, ele era tinhoso sabia como levar os pais na conversa. Sempre foi assim por que quando era pequeno teve uma doença que seus pais nunca souberam explicar bem, pois os médicos da capital não souberam descobrir que doença era. Mas também no final dos anos cinqüenta para os anos sessenta a medicina não era evoluída como hoje. Essa doença destruiu com o seu nariz, deixando-o somente com a cavidade das narinas para respirar com isso ele ficou fanhoso. Por causa da deformidade no rosto, seus pais sempre o pouparam de tudo, fazia todas as suas vontades.

Por isso é que neste dia, seu pai ia a Pendura mesmo contrariado para ter um dedo de prosa com o seu Bento. Porque seu filho havia batido o pé dizendo que se fosse para ele ir a pé ou a cavalo ele não ia trabalhar na prefeitura mesmo que o prefeito pedisse de joelhos. Então seu Isidoro juntamente com sua esposa dona Joana acharam melhor falar com seu Bento que eram muito amigos deles para ver se o filho podia ficar na casa deles de segunda a sexta feira, para poder trabalhar.

Chegando ao armazém depois dos cumprimentos de praxe, seu Isidoro foi logo ao assunto que o tinha levado até lá dizendo,

-Bento meu amigo,, vim aqui para ver se o amigo poderia fazer um grande favor a mim a minha patrona.

-Pois não Isidoro diga o que é que vou ver ser posso ajudar o amigo.

Então Ele explicou tudo ao Bento. No que seu Bento, coça a cabeça e diz,

-Vou chamar a Helena, para ver o que ela acha, pois não posso tomar uma decisão desta sem falar antes com a patroa, porque afinal de contas ela que é a dona da casa.

Quando dona Helena chegou, seu marido explicou o que era ela diz,

-Claro que o Vicente poderá ficar aqui em casa. Temos um cômodo que o Bento usava para deposito. Faz tempo que esta lá fechado sem nada, Vou limpar colocar móveis de quarto assim ele poderá ter mais liberdade e privacidade.

Dito isso pediu licença, entrou para sua casa, chamou a moça que a ajudava nos afazeres domestico e foram limpar o cômodo.

Vicente mudou-se para casa do seu Bento e tudo corria bem, sempre muito bem tratado. Até mesmo a refeição fazia junto com seu Bento e sua família, aliás, era tratado com um membro da família. Até que, chegou à época das eleições ele resolveu que iria apoiar o candidato do partido contrario as convicções políticas do seu pai e do seu Bento. E pensou faço aquele matuto bobo do meu pai apoiar quem eu quero porque ele sempre fez o que quis, sei como levar ele na conversa. E vou fazer o seu Bento dar apoio ao candidato que eu quero sei como conduzir as coisas aquele Bento pensa que sabe das coisas, mais sou muito mais esperto do que ele.

Para colocar seu plano em ação precisam encontrar primeiro um bode expiatório e ninguém melhor do que o Mane da sanfona, por ser conhecido tanto quanto ao seu Bento, também muito querido por todos de Pendura e das redondezas, porque em toda festas com arrasta pé lá estava ele com sua sanfona animando para todos dançar. Passou então a procurar uma oportunidade para falar com ele em particular, até que em uma sexta feira à tarde quando estava indo para casa dos pais o encontrou com ele na estrada parou o cumprimentou e começou uma conversa com ele até que disse,

-E família como está?

-Vai bem e a sua?

-Com dona Dora sua esposa está tudo bem entre vocês?

Mane estranhou a pergunta mais respondeu

-Está tudo bem. Por que o amigo pergunta?

-É que ouvi que as coisas não andam bem entre vocês.

-Amigo não estou entendo esse tipo de conversa.

-Mane penso que você não está sabendo de nada mais como sou amigo, gosto muito do senhor, pois é um bom homem, além disso, está sempre animando os bailes. Sinto-me na obrigação de contar.

-Contar o que? Fala de uma vez!

-É que sua esposa a Dora está andando com o delegado. Você entendeu o que quero dizer.

Mane ficou lívido, não disse nada só esporeou o cavalo e saiu em disparada.

Vicente pensou está feito, agora volto lá em Pendura e digo que esqueci umas roupas sujas e que voltei para pegar para a mãe lavar. Deu meia volta e voltou, quando ia saindo chamou seu Bento dizendo,

-Preciso falar um minuto com o senhor.

-Pois não Vicente!

-Seu Bento gosto muito do senhor, tem uma grande estima e admiração por sua pessoa, penso que o senhor não merece o que anda acontecendo pelas suas costas. Por isso me sinto na obrigação de avisá-lo.

-Vicente avisar do que? Deixa de rodeios e diz logo.

-É que é meio difícil dizer.

-Que tal começar pelo começo?

-Seu Bento ficou meio sem graça, mais vou dizer então. É que sua esposa dona Helena, esta saindo com o delegado. O senhor entende o que quero dizer.

-Entendo sim Vicente, você está dizendo que minha esposa está me traindo com o delegado.

-É isso mesmo seu Bento.

-Vicente, obrigado por você ter me vindo alertar, conheço a mulher que tenho a mulher com quem me casei. Vou observar se eu notar alguma coisa estranha eu mesmo tomo as providências. Era só isso que tinha para falar comigo?

-Era!

-Já que falou está passado da hora de você ir para a sua casa.

Passado mais ou menos umas duas horas desta conversa chega Mane da Sanfona no armazém do seu Bento e pede uma dose de pinga, para acalmar os nervos. Seu Bento serve a pinga ele toma de um gole só. Pede mais outra dose, seu Bento diz a ele,

-Mane você prefere conversar em vez de beber?

-Bento, meu amigo não sei como estou me agüentando, hoje fiquei sabendo de coisas horríveis da Dora.

-Pelo seu estado posso imaginar do que se trata.

-Você já sabia do que estava acontecendo e não me contou nada? Você não é meu amigo?

-Calma! Só imagino.

-Como imagina?

-Mane vou te fazer uma só pergunta se a resposta for afirmativa te falo o que estou pensando o que aconteceu.

-Pergunta!

-O Vicente conversou com você hoje?

-Sim!

-Então já sei por que você está assim transtornado e querendo beber até ficar bêbado.

-O que?

-Vou ser direto com você por que tenho essa liberdade por conta da nossa amizade

-Está certo!

-O Vicente te falou que a Dora está andando com o delegado não foi?

-Foi sim! Você já sabia disto e não me disse nada? Que tipo de amigo é você?

-Calma! Sei disto porque ele veio aqui agora a pouco e me falou a mesma coisa da Helena

-O quê?

-Isso mesmo!

-O que você fez?

-Nada, só disse a ele que sabia com o tipo de mulher que me casei e que iria observar se visse alguma coisa eu saberia o que fazer.

-Bento, você não fez nada mesmo com a dona Helena?

-Claro que não! Sei que ele fez isso por pura intriga. Por causa da política. E você o que fez?

-Bento cheguei a casa fui direto para a cozinha não disse nada, já agarrei a Dora pelos os cabelos, bati muito nela, se os vizinhos não tivesse ido lá penso que eu teria matado a Dora.

-Mane, você deveria ter conversado com ela antes, pois é o que vou fazer quando fechar o armazém. Vou conversar com a Helena, ver o que ela irá dizer, tomaremos a decisão junto com relação a ele.

-Bento por isso é que todo mundo te admira aqui em Pendura, todo mundo gosta de você porque é um homem ponderado, sábio, não é como eu que sou um matuto. Agora com que cara olharei para a Dora?

-Mane melhor você ir para a casa de seu pai dormir lá, depois que conversar com a Helena, iremos a sua casa para conversar com a Dora, ela saberá te entender. Agora vai para a casa do seu pai, vou fechar mais cedo para resolver essa questão com a minha esposa.

Mane saiu Bento fecha o armazém entra em casa chama a esposa e conta tudo a ela que diz,

-Bento não quero mais esse mau caráter na minha casa. Sou eu que irei dizer isso a ele quando chegar aqui no domingo à tarde. Mais quero que você mande avisar aos pais dele para vir aqui, você irá contar aos pais dele o que ele fez. Agora vamos à casa de Dora porque estou preocupada com ela.

Chegando lá, vira o quanto ela tinha apanhado do Mane que era um homem calmo e por causa de uma intriga havia agido com violência. Eles conversaram um bom tempo com Dora contando o motivo que tinha levado o Mane agir daquela forma, como ela amava o marido entendeu, só que disse,

-Quero que o Vicente tenha uma lição que apanhe como eu, para poder sentir na pele a vergonha e humilhação.

Seu Bento diz

-Ele irá ter a lição Dora. Amanhã quando o Mane chegar aqui, vocês vão na minha casa para podermos conversar para tomar a decisão juntos.

Estou dizendo amanhã porque aconselhei o Mane ir dormir na casa dos pais para esfriar a cabeça.

-Certo!

Despediram, foram embora.

Quando chegaram a casa, seu Antenor estava lá, para uma visita, seu Bento contou para o seu grande amigo a intriga que o Vicente tinha inventado e como Mane reagiu, seu Antenor disse,

-Até que a reação dele não foi das piores porque tem homem que mata a esposa e o cabra da peste também. Bento é melhor chamar o delegado aqui e o pai do Vicente para essa conversa. Quando for embora passo lá, converso com o pai dele, é caminho da minha fazenda mesmo.

-Antenor, obrigado sabia que podia contar com você.

-Bento eu venho para essa conversa também, nunca fui de deixar um amigo na mão, porque se o pai dele não der a lição merecida nele, pode deixar que eu dou.

Despediu e foi embora. No outro dia na hora combinada todos estavam lá reunidos na casa de seu Bento, conversaram e ficou acertado qual castigo o Vicente teria. No domingo a tarde depois que o Vicente saiu para ir para Pendura os pais deram um tempo e foi também. Quando ele chegou à casa do seu Bento, dona Helena o esperava na porta de casa, disse a ele.

-Pode dar meia volta, você não é mais bem vindo em minha casa.

Ele levou um susto e disse,

-A casa é do seu Bento, ele não me disse nada, então eu fico.

--Rapaz, você não entendeu? Aqui não entra mais não é Bento?

-É sim Helena está é sua decisão, eu a respeito. Aqui você não entra mais Vicente Helena já disse.

Ele levantou a cabeça e virando as costas para sair quando deu de cara com o pai estava com o chicote na mão, só disse,

-Deveria ter feito isso quando você era criança, mais nunca é tarde para começar a educar um filho.

Ele fez menção correr mais dois empregados do seu Antenor ficou na frente bloqueando a sua passagem, seu pai bateu tanto como chicote que os vergões levantaram. Todos os moradores de Pendura foram à rua para ver. Alguns perguntavam onde é que o delegado estava que não ia lá acabar com aquela surra. Os que moravam perto da cadeia falou que o delegado tinha saído cedo para pescar e ainda não havia voltado da pescaria. E na segunda feira Vicente teve que engolir a vergonha e ir trabalhar todo roxo de tanto apanhar do pai. Teve que ir a pé porque o pai havia dito que andar fazia muito bem, o cavalo não podia ficar o dia todo arreado na porta prefeitura sem comer, sem beber que ele sim, podia ficar sem almoçar porque já havia tomado o café da manhã e a noitinha jantava que não ia morrer de fome por ficar sem almoçar. Foi reclamar com a mãe ela disse,

-O que seu pai disse é verdade, você deveria ter pensando antes de ter feito o que fez com pessoas nossas amigas. E o que está feito esta feita.

Ele teve que agüentar a cara de riso de todo mundo, porque naquele dia todo mundo de Pendura foi resolver um problema na prefeitura.

Lucimar Alves

Lucimar Alves
Enviado por Lucimar Alves em 05/11/2012
Código do texto: T3970906
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