A MULHER DAS HISTÓRIAS

             
            Saí bem cedo para o trabalho, mas por mais que me apressasse, perdi o ônibus e o outro demorou bastante. Ao lado daquele ponto, havia uma senhora que vendia café, pastéis e coxinhas. A sua simpatia era seu cartão postal. Todos a chamavam de “a mulher das histórias” ou a mulher que faz os outros rir”. Eu até esqueci que teria embarcar no próximo coletivo que viesse. E ela começou a contar um causo mais ou menos assim:
            “Numa fazenda havia uma moça muito bonita. Vamos chamá-la de Lindinha. Vários rapazes queriam namorá-la. E ela muito safadinha que era, namorou três rapazes ao mesmo tempo. Todos eles frequentavam a sua casa. Ela revezava. Teria que ser um dia de cada, pois um não sabia do outro, e nem tampouco poderia saber. Um dia o pai combinou com a filha, que daquele jeito não poderia ficar. Que escolhesse o que mais gostava, e dispensasse os outros dois, e assim ele providenciaria a festa do casamento. A mimada Lindinha teve uma ideia. Pediu ao pai que realizasse uma prova de coragem. O velho concordou, mas que tipo de prova? Passou a noite sem dormir, pensando. No dia seguinte já estava com o plano pronto, faltava colocar em prática. Então ele foi falando, e a filha foi escrevendo pra não perder nenhum detalhe. Ele começou a dizer que iria falar com cada um deles. Que a filha marcasse um encontro em dias separados, e marcariam uma data pra fazer a prova.
            Chegou o primeiro. O pai da menina propôs pra este: Num determinado dia, você deita num caixão de defunto no altar da igreja. Não se preocupe que já combinei com o padre. Você fica lá sozinho, à noite toda. Tem que fingir de morto. Se conseguir fazer isso, será o marido de Lindinha. O moço apaixonado como estava, aceitou o desafio.
            Chegou a hora da conversa com o segundo. O velho disse: Olha rapaz. Pra se casar com minha filha vamos fazer um teste de coragem. Lá na igreja vai ter um morto no caixão (um sem saber do outro). Você vai ter que ficar cuidando dele à noite toda. Só no dia seguinte que vão levar o corpo para o cemitério. E então, você será meu genro. Topa? E topou na hora de tão empolgado que estava.
            Enfim chegou o terceiro namorado. O velho falou no início, o mesmo que disse aos dois primeiros. Então prosseguiu: Tal dia, lá na igreja do alto da serra, aquela que está no meio do mato, vai ter um defunto lá. Ele vai estar num caixão, e ao lado deste, vai estar um rapaz cuidando do morto. Você terá que se fantasiar de diabo, com garfo, chifres, asas de morcegos... A fantasia nós damos um jeito de fazê-la. Quando for à meia noite em ponto, você deve entrar na igreja, pegar o caixão, colocar nas costas e sair. Saindo de lá, traz aqui pra mim. Então você será o homem que desposará minha filha. O rapaz aceitou e saiu esfregando as mãos de alegre.
            Chegou o dia marcado. Um sem saber do outro. Nem se conheciam. O primeiro foi até à igreja, deitou no caixão e ficou. Chegou o segundo, deu uma olhada no “morto”, olhou para os lados, sentou ao lado do caixão e ficou esperando. Teria que ser a noite inteira.
            Finalmente chegou o terceiro pretendente à meia noite em ponto, vestido de “cramunhão”. O rapaz que cuidava do “falecido” estava cochilando. O demo botou o caixão nas costas e foi saindo. O outro do banco acordou e começou a gritar desesperado:                                  - O “coisa ruim” está levando o defunto para o infeeernooo....
     Com isso o suposto defunto se assustou e pulou do caixão e saiu correndo. O primeiro já havia fugido para o mato gritando. O vestido de “bicho feio” também levou um susto tão grande que atirou o caixão pra longe e saiu em disparada.
            E com quem a moça ficou? Com nenhum porque ninguém passou no teste de coragem”.
              A alegre senhora ao contar, foi reunindo uma plateia informal. A rua ficou cheia. Pessoas curiosas paravam, desciam dos carros e vinham ali pra ouvir os casos e causos contados pela mulher. Assim esta atraía multidões e seus produtos eram vendidos. Cheguei atrasado no trabalho, mas valeu a pena.

(Christiano Nunes)