A Família dos coveiros

Quando se falava de morte em Laje

Sempre se lembrava dos Deutérios

Pois desde a inauguração

Eles é que cuidavam do cemitério

E na funerária municipal

Não era diferente

Os Deutérios tinham

Caixões para toda gente

Era um corre para casa dos Deutérios

Quando alguém batia as botas

Eles já sabiam o que era

Quando alguém batia na porta

E por darem com a morte

Eram vitimas de preconceitos

Mulheres eram ruins de casar

E homens viviam no maior aperto

Viviam vestidos de preto

E andavam iguais a zumbir

Quando eles saiam a noites

Muitos acostumavam a sumir

Mas, existia uma tradição na família

Que não podia ser quebrada

Quem morresse na família tinha

Que ser por gente da família enterrada

Na verdade isto, nunca foi problema

Até que só um Deutério sobrou

Seu nome era Augusto dos Anjos

E não possuía um sucessor

Tentou de todas as formas

Alguma fêmea engravidar

Foram tantas tentativas

Mas, nenhuma conseguia embuchar

Augusto não era bastante culto

Para desacreditar de uma tradição

Necessitava de um sucessor

Para enterrar o seu caixão

O povo também estava preocupado

Augusto precisava de um herdeiro

Pois o cara usava a par como ninguém

Era um espetáculo de coveiro

Durante o enterro era um show

Todos esperavam o padre calar

E Augusto pegava sua pá

E o povo começava a babar

Até as viúvas inconsoláveis

Esqueciam seus lutos

E o padre rezava mais rápido

Só para ver o espetáculo de Augusto

Diante da impossibilidade de ter um filho

E o medo da tradição quebrar

Augusto não achou outra maneira senão

Um plano muito louco arquitetar

Ele cavou uma cova de sete palmos

E deu em cima da mulher de Vescelau

Que era o coronel da cidade

Por isto, ela era a mulher ideal

Augusto ficou na cama do coronel

Na esperança de num flagrante ser pego

Até que o chifrudo do vescelau abriu a porta

Seria melhor se ele fosse cego

O coronel puxou da bainha sua faca

E Augusto pela janela pulou

E foi correndo para o cemitério

E entrou na cova que cavou

Enquanto o corno entrava no cemitério

Augusto esperava ansioso na cova

Seria morto e a tradição preservada

Pois o buraco fora sua obra

Mas, quando o coronel chegou na cova

E viu Augusto ansioso dentro de um caixão

Achou aquilo muito assustador

E morreu de ataque do coração

O corno caiu duro na cova

Foi a maior decepção

Mas até que Augusto lucrou

Pois vendeu mais um caixão.

kakaos
Enviado por kakaos em 23/11/2012
Reeditado em 23/11/2012
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