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A MULHER SORRISO

            A MULHER SORRISO

            Dona Zezinha, conhecida como Mulher Sorriso, apesar da idade avançada e as dores, ninguém a via triste. Sempre alegre e feliz. Não deixava se abalar por situações adversas, exceto quando morria alguém da família ou que lhe fosse muito querido. Tirar a palha da espiga de milho, debulhar de noite pra tratar os animais no dia seguinte, era motivo de diversão. Em volta do fogo na casa de chão batido, enquanto tomava chimarrão com os filhos e netos, passava-lhes sábios conselhos. Quando não havia ninguém pra conversar, não ficava quieta. Cantava e recitava poesias. Aprendeu a ler com o marido, no tempo que eram namorados. Toda a vizinhança gostava de estar ao seu lado e ouvi-la contar a história da sua vida, da sua infância, o que conseguia lembrar.

            - Vovó Zezinha, a senhora sempre foi assim? – Perguntou o vizinho curioso, um dos seus fãs.
            - Sim. – Respondeu a risonha senhora. Essa foi a herança que recebi dos meus pais. Eles se foram para a última morada, mas nos deixou sábios conselhos. Meu velho pai já havia herdado dos meus avós. Isso quer dizer, que vem de gerações. A bênção da alegria e felicidade. Tenho certeza que morreram felizes. Se tristeza não paga dívidas, por que eu haveria de estar chorando?

            Essa era sempre a resposta da entusiasta velhinha.

            A disposição era tal que causava inveja em muita gente mais jovem. No aniversário de noventa anos dançou tanto que ficou exausta. Depois de dançar várias músicas sem parar, sentou-se num sofá, recostou a cabeça e pegou no sono. Uma das netas pegou um travesseiro e a fez deitar. Dizem que falava e dava risadas mesmo dormindo. Quando acordou contou que havia morrido e recebido lá em cima com muita alegria e danças.
            - Senti-me em casa. Dizia a idosa divertida.
Um dos motivos que pra ela era alegria e felicidade era o dia do seu aniversário. A data era vinte e nove de fevereiro. Fazia questão de comemorar só de quatro em quatro anos.
            - Em cada quatro anos, faço apenas um. Por isso não fico velha. – Brincava.

            Quando sentia alguma dor forte, nunca queria ir ao médico. Velhinha teimosa. Dizia que logo iria passar. Muitas vezes passava mesmo.

            Um dia dona Zezinha se sentiu mal. Quando avisou a filha e a sobrinha, disse que era pra chamar alguém porque não estava aguentando. Deitou e dormiu. O médico chegou, seu pulso estava frio. A mulher estava morta.

            O corpo da dona Zezinha foi velado na Prefeitura da cidade. Tinha que fazer fila pra vê-la e dar o último adeus. Todos foram unânimes em afirmar que a conhecidíssima mulher sorriso, no seu velório tinha um semblante alegre, rosto como de um anjo. Parecia que sua alegria havia continuado após sua morte. Muitos a partir daquele dia mudaram de um comportamento rude e carrancudo, para um com sorriso de felicidade, como foi da dona Zezinha. Exemplo de entusiasmo. Esses começaram na busca da felicidade, que começa através de um coração alegre e um sorriso espontâneo.

(Christiano Nunes)