BAMBUZAL

Nas proximidades de Salinas-MG, numa estrada vicinal, tinha uma enorme moita de bambuzal.

Meu tio começou a me contar ali embaixo daquela sombra gostosa, naquela tare deverão que fazia um enorme calorão. Aqui contam os mais velhos, existia um tronco onde os feitores amarravam os negros para castiga-los, era tanta judiação que muitos morriam sob o efeito da tortura e outros eram degolados pela guilhotina, foi grane o número de negros mortos nesse lugar.

Depois de um breve descanso seguimos viagem até Salinas onde compramos algum mantimento e retornamos à noite trazendo os trens na garupa de nossos cavalos.

Quando chegamos embaixo do bambuzal algo sinistro aconteceu. Um vento sem nem cabeça agitou a moita de bambus, torcendo toda moita e com tanta força. Foi um vento em forma de rodamoinho, torcendo com tanta força a moita de bambus, que parecia querer arrancá-la, atingindo só o bambuzal, em volta, por incrível que pareça todo estava calmo, sem vento algum.

O mais assustador foi que enquanto o vento agitava a moita, o cabresto desprendeu-se do cabeçote dos arreios de nossa montaria, vieram amarrarem-se nos canos de bambus, quando demos fé nossos animais já estavam ali atados.

Eu que já não me aguentava mais de medo, tive que segurar a aba do meu ramenzoni, com as duas mãos, não por causa do vento forte, mas porque meus cabelos arrepiaram de tal forma, que parecia ter se elevado a um meio metro de altura à cima do casco da cabeça. Eu tremia feito uma vara verde, como se estivesse com maleita, tentei dizer alguma coisa, mas minha língua estava dormente, fiquei totalmente paralisado como uma estátua.

Meu tio mudou de cor, de um moreno escuro a um cinza esverdeado, mas estava um pouco mais calmo do que eu. Os lábios dele se moviam nervosamente meio que tremendo, meio que balbuciando alguma coisa em voz baixa, recitava alguma oração, talvez uma reza braba que ele sabia, pra espantar a visagem.

Eu pobre de mim ali estatizado, mal conseguia pensar, mesmo assim recorri a todos os santos de minha devoção, apenas em pensamento pedia-lhes que nos socorressem. Até que em fim um deles, não sei o qual nos atendeu, não sei se a mim ou ao meu tio, ou ainda a nós dois.

Depois de uns dez a quinze minutos, que pra nós pareciam horas o vento foi se acalmando e como num passe de mágica, o cabresto de nossas montarias estavam novamente preso ao cabeçote das celas de nossos cavalos, que dispararam violentamente de forma que não conseguíamos fazê-los parar. Os cavalos só pararam quando chegamos na porta da casa do meu tio. Apeamos desarreando e soltando os animais e entramos cada um para seu quarto, sem dizer uma palavra.

Nunca mais passamos no bambuzal depois do anoitecer.

CEZARIO PARDO
Enviado por CEZARIO PARDO em 03/12/2012
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