A CEIA de Mestre Ataíde

A CEIA

de

Mestre Ataíde

Manuel da Costa Ataíde, Mestre Ataíde, nasceu em Mariana (18/10/1762), MG e foi conteporâneo das artes de Aleijadinho. Ingressou na carreira militar, pai de quatro filhos, nunca se casou.

O poeta Carlos Drummond de Andrade,em sua obra,homenageou assim o trabalho da dupla de artistas. "Alferes de milícias Manoel da Costa Athaíde: eu, paisano, bato continência em vossa admiração. (...) Encontro-vos sempre caminhando mano a mano com o mestre mais velho”.

Pintor, dourador, encarnador, entalhador, músico, Mestre Ataíde é considerado mundialmente como importante artista do barroco mineiro.

Uma das características da sua expressão artística era o emprego de cores vivas, principalmente o azul, a sua preferida. Em seus desenhos, os anjos, as madonas e os santos apresentam traços de povos africanos.

No século XIX, em 1818, requereu a Dom João VI a criação de uma escola de belas artes em Mariana. Seu pedido fora negado e a instituição instalada no Rio de Janeiro, hoje atual Escola Nacional de Belas Artes. Em 1821, recebeu atestado de professor das "artes da arquitetura e da pintura".

Dentre os vários trabalhos realizados nas igrejas barrocas mineiras há uma tela – tida como a única pintada por ele, sobre cavaletes – a “Ceia”. Esta obra, até hoje, cabe perplexidade em quem a visita. Esta tela se encontra no Caraça, em Catas Altas, MG.

Antes do incêndio ocorrido em 1968, a tela ficava no salão nobre do Colégio do Caraça. Salva pelos alunos e alguns padres – juntamente com alguns exemplares de livros - a tela fora para o refeitório. Após o fechamento do Seminário, passou a ser abrigada na Igreja. Encontra-se nos registros da biblioteca local, documentos que asseguram a veracidade da pintura atribuída ao Mestre Ataíde, como transcrevo:

“O Alferes Manoel da Costa Ataíde, branco, solteiro, morador na Cidade Mariana que vive da arte de sua Arte da pintura, de idade de sessenta annos testemunha … Ao quarto disse elle testemunha esteve hum anno pouco mais ou menos empregado nas obras de pintura e douramento da Capella de Nossa Senhora Mai dos Homens e a Serra do Caraça por ajuste que tinha feito com o falecido Irmão Lourenço fundador da mesma Capella em quem reconhece sempre muita virtude, confiança e verdade...”

O irmão Lourenço foi o fundador e quem administrava o seminário. Em sua homenagem, o “Mestre” pintou seu rosto, em óleo, e essa tela ainda se econtra lá, no Caraça.

Na “Última Ceia”, tela pintada por “Leonardo Da Vinci”, na Renascensa, enquanto Cristo benzia o pão e o vinho, dentre os doze apóstolos, alguns olhavam-no e outros, entreolhavam-se. Já na pintura do Mestre Ataíde, algumas personagens roubaram a cena, pois, além de Cristo e dos Apóstolos, estão presentes na cena mais cinco pessoas.

À esquerda da tela, uma servidora à frente de um casal adentra o recinto carregando uma travessa com pães. Nota-se que ela é tocada no ombro pelo senhor e ela então o retribui com um certo “affair” no olhar.

À direita, dois servidores, abruptamente também adentram a sala e, um deles, porta um pote de bebida.

Na frente, assentado, Judas, delator de Cristo, segura um saco de dinheiro (que ganhou por trair Jesus?) olha fixamente para fora como quem estava mais interessado em saber a saída para o Jardim das Oliveiras que ficar no ambiente. Outros apóstolos mais, olham somente para uma suposta porta.

Irreverência do Mestre Ataíde? Homem religioso que pertenceu a dez congregações católicas! Retratou, fielmente, uma outra tela com essas informações? Como saber, não é? De qualquer forma uma bela leitura semiótica.

Por sobre a mesa, pintada por Ataíde, há restos nos pratos e talheres, também.

A tela traz a assinatura do mestre “Ataíde feita em 1828”.

Manuel da Costa Ataíde morreu em Mariana, em 1837.

P.S. Aos amigos recantistas interessados, passe-me um email que o retornarei com uma foto desta tela.

Palavras-chave

Manuel da Costa Ataíde, Mestre Ataíde, Aleijadinho, Mariana, Leonardo Da Vinci, Barroco, Última Ceia, irmão Lourenço.

ANTÔNIO CALAZANS