Imagem: muro de pedras na Serra da Canastra


O dia não ficou marcado, pois, coisas assim quase nunca deixam marcas, datas e nem horas, ficou só como um dia, uma vez... E é assim que começam tantas histórias: certo dia, uma vez ou era uma vez...

Os anos se passaram e coube a mim sentir um lampejo do toque mágico dos causos e através de palavras escritas, não deixar o tempo diluir antes de chegar ao leitor coisas dessas tantas roças e fazendas, cantos afastados e sertões enveredados. Coisas como o que aconteceu a seguir.

Fui porque ouvi dizer que aquele lugar ainda era habitado por almas-do-outro mundo, escravos martirizados, arrastando correntes ou o fantasma do fazendeiro cruel que não achou sossego no túmulo e voltou para descansar em sua cadeira de balanço e dormir de novo em sua cama. Dizem, que ali até hoje se ouve choros, ranger de portas, panelas cozinhando sem fogo, pratos caindo. Pedras aparecem não se sabe de onde e acertam os visitantes descuidados.
 
Cercado por muros de pedra, avistei o casarão fincado ao pé da serra como uma antiga árvore. O sol forte quase atenuou sua aparência sombria de profunda solidão e tristeza.  As janelas cerradas, o mato invadindo, por falta de dono. O que resta da sede daquela fazenda são cores desbotadas, musgo ressequido, forjando em sua fachada uma inscrição anônima: 1887-1945. Ali não ouvi passarinhos e nem vi flores. Só pedras, poeira e cinzas.
 
O lugar pedia para não ser profanado... Uma casa, mesmo caindo aos pedaços, já teve seus dias de glória e isso, nem a poeira nem o tempo conseguirão apagar. No antigo alpendre um sentimento me envolveu, uma sensação estranha tomou conta de mim... Ali naquele balcão de onde, outrora, o senhor das terras deitava os olhos sobre seus domínios...

Ouvi um barulho
de janela batida pelo vento. Mas não havia vento...O ar estava parado e sufocante. Não consegui tirar nenhuma foto. Fiquei em silêncio, fiz uma oração e parti.
 


                                       

                                                    Imagem Google
Maria Mineira
Enviado por Maria Mineira em 18/12/2012
Reeditado em 19/12/2012
Código do texto: T4041720
Classificação de conteúdo: seguro