LOUCURAS DE UMA ADOLESCENTE.



     No ano de 1967, cursava o segundo ano do ginásio e o episódio se passou na disciplina de Ciências Naturais.
De um lado estava o professor da disciplina fazendo campanha junto aos alunos para incentivar o interesse dos mesmos por sua disciplina.
Proposta: Cada aluno que trouxesse um animal para a sala de aula, receberia uma pontuação extra para melhorar a nota final.
Do outro lado da história, eu. Uma menina com seus treze anos, saída da roça e sem muito gosto pelo estudo. Portanto, ganhar uns pontinhos, era garantia de passar de ano naquela disciplina.
Filha de agricultor e exímio caçador, pouca coisa eu temia. Frisando que naquela época, a caça era livre no sul do país e não haviam campanhas de preservação pela natureza e meio ambiente. Cada animal abatido era considerado um troféu.
Vez por outra eu aproveitava a caça do pai e toda orgulhosa, levava para o professor da disciplina. Um dia levei girinos e sapos. Noutro, levei um pássaro chamado Gavião. Ele era enorme. Uma bela ave de rapina.
As aulas de Ciências Naturais eram ministradas à tarde. Um dia, aguardávamos sentados à mesa a chegada do pai para almoçar. Quando ele apareceu no pátio da casa, ele chamou em alemão: - Vem ver o que eu trouxe aqui.
Saímos todos correndo para o pátio. O pai estava parado segurando um pé seco de milho. A princípio a gente não entendeu, mas logo ele alertou: - Ninguém chega perto. Esta cobra quase me mordeu. Trouxe ela para vocês conhecerem uma Jararaca viva.
Arregalamos os olhos, ao ver aquele animal enrolado no pé de milho a se contorcer.
Logo uma ideia brotou na minha mente. A próxima aula do professor de ciências seria sobre cobras. Justo naquela tarde. Não deu outra:
- Pai, tu não mata esta cobra. Vou levar ela para o professor.
- Nada disto guria. Ela tá machucada. Muito brava e pode te morder.
- Bota ela na gaiola de passarinho do Paulo. Assim ela não foge.
De tanto pentelhar o pai, ele acabou aceitando o meu pedido. Até hoje não sei como o convenci daquela loucura.
E lá fui eu para o colégio com a Jararaca na gaiola. Vez por outra eu me atrevia a olhar para a cara dela. Continuava com a boca mordendo a tela fina da gaiola. Devia estar muito brava e com dor.
Na metade do caminho quase desisti, mas havia emprestado a gaiola do irmão e precisava devolvê-la, senão o bicho ia pegar mais tarde.
Quando entrei no colégio, muitos curiosos vieram correndo para saber o que eu havia trazido naquela tarde. Fui direto para a sala de aula e esperei o professor chegar.
Logo que adentrou a sala, falou:
- Mas guria, esta cobra é muito perigosa. Esta gaiola é como papel para ela.
A cobra espumava pela boca. O professor explicou que era o veneno dela. Muito rápido, ele mostrou as principais características do animal e afirmou:
- De hoje em diante, para a segurança de todos vocês, vamos estudar as demais espécies pelas figuras dos livros. Nada de animais vivos. E explanou:
- Se algum de vocês encontrar com uma destas cobras, passe longe delas. Elas podem matar um adulto com seu veneno.
Eu passei a me sentir um monstro diante dos olhares de medo dos meus colegas de classe. Ele ordenou:
- Eu e os guris vamos até o potreiro atrás do colégio para nos livrar deste animal. As meninas ficam na sala de aula. Tarefa: Fazer uma redação, relatando tudo o que aprendeu sobre cobras.
E eu pensei: - Maldita cobra. Além de tudo, ainda terei que fazer uma redação, escrevendo sobre ela.
Na volta para casa, eu tive vontade de jogar a gaiola danificada no mato, mas tinha que devolvê-la ao meu irmão.
Resumindo: Até hoje tenho pesadelos terríveis com cobras. Com muitas cobras.
Um dia, contei para minha secretária, sobre um pesadelo meu com cobras. Ela fez uma fezinha no bicho e o número foi sorteado. Aconteceu duas vezes em pouco tempo.
Será que a cobra é meu animal da sorte?


Escrito por Cristawein.

Cristawein
Enviado por Cristawein em 10/01/2013
Reeditado em 16/06/2013
Código do texto: T4078233
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