O GENIO QUE ESCAPOU DO ABORTO (8º CAPITULO)

A carruagem adentrou as dependências do celeiro, conduzida pelo coronel acompanhado pela grande caravana de carroças carregadas de cereais produzidos em sua fazenda Racharia. Estranhando a ausência de Luizinho sempre Prestativo, o coronel se encheu de preocupação. O garoto logo que percebia aproximação do contingente transportando as cargas, corria a abrir o depósito. Desta vez não apareceu. Preparava-se para ir à busca da chave, quando Pedro esbarrou seu cavalo,ao lado de sua carruagem, --bom dia coronel aqui esta a chave do armazém! –O que aconteceu-, onde está o menino? – Luizinho partiu para capital, deixou comigo a chave e o caderno de apontamentos, pediu-me que lhe entregasse, não se preocupe vai encontrar em perfeita ordem, ai dentro está tudo limpo, Rosa e eu o ajudamos na limpeza e colocamos as estivas nos lugares, é só o senhor autorizar a descarga. – Como partiu para a capital, acaso foi acometido por alguma doença grave que teve de viajar assim inesperadamente?—Não coronel tem muita gente generosa por este mundo afora. Um milionário estrangeiro gostou do menino e se encantou com sua arte, assim que viu sua pintura nas paredes da estação, caiu de amores por sua obra, desistiu de seguir viajem naquele dia, esteve por aqui dois ou três dias e o levou com ele, afirmando que não se desperdiça um talento tão valioso enfiado neste sertão sem eira nem beira, levou dona Laura também, disse que ela vai ter estudo de graça, ele vai bancar tudo. Nós ficamos profundamente tristes, mas fazer o que não podemos prejudicar o menino!

--Vocês são uns egoístas desgraçados, quantas vezes eu quis adotar este menino, e me negaram isso, agora dão ele para um estranho que nunca viram? Acha justo fazer tamanha injustiça comigo? Eu lhes dei uma fazenda de graça para trabalharem e veja o que me deram em troca, ingratidão!— Não quero nem estar perto quando minha esposa Manoela souber desta injustiça cometida por Laura!

--Fique tranqüilo coronel, amanhã mesmo eu te entrego sua fazenda e estamos acertados. —Não absolutamente você vai continuar ai e eu quero o endereço de Laura vou buscar ela de volta, o que ela pensa qui é para me desafiar desta forma?—Olha coronel agindo assim o senhor vai apenas complicar a situação. Cuidado com o coração ficar nervoso desta forma, além de não resolver nada ainda poderá ti fazer mal! Eu não quero brigas nem discutição! Não tenho endereço e se o tivesse não lhe daria porque o senhor manda em suas propriedades e nós não fazemos parte delas por tanto vá se acalmando porque o que fizemos é problema nosso.

Essa reação do coronel agradou e muito o casal de amigos, Pedro e Rosa, a vingança de Laura começou a surtir efeito, o coronel estava obcecado pelo menino e o castigo que Laura pretendia lhe aplicar estava dando bom resultado. O Homem ficou transtornado. Mas acabou por se acalmar e convenceu Pedro a permanecer na fazenda e zelar do seu estoque no celeiro.

Voltando a Rancharia deu à triste noticia a Manoela, imaginou que ela teria, uma reação agressiva como ele, mas se enganou completamente. Ao Contrário ela simplesmente respondeu:- - louvado seja Deus que ele abençoei Laura e Luizinho e os faça feliz! --que diabos estão dizendo mulher, e nós como ficamos nessa história? – Ficamos com a saudade com a nossa angustia e nossa amargura, não isso que você plantou? Agora colhe-, quem semeia preconceito e injustiça meu querido, colhe ódio desprezo e morre na solidão.

Enquanto isso Luizinho era matriculado, estudando a matéria escolar na parte da manhã e arte na parte da tarde. Laura fez um curso de etiqueta e foi contratada como governanta na mansão do milionário. O tempo corria e Luizinho a cada ano se destacava mais, tanto nos estudos de jornalismo, como na arte da pintura.

Certoro envelheceu tentando contato com o neto, mas nunca conseguiu seu endereço. Chegou a indispor diversas vezes com o deputado Saulo, querendo forçá-lo a descobrir o paradeiro do menino, mas ele também perdera o contato com os amigos. O coronel chegou a ter alucinações provocadas por seu desejo e sua obsessão para reencontrar o garoto. Manoela sempre saudosa, mas matinha viva a esperança que um dia reencontraria seu neto, já crescido e realizado na vida, ela só não esperava, encontrá-lo tão famoso.

O tempo corria o povoado cresceu passou a categoria de Vila, daí a pouco se emancipou. Envelhecidos, a saúde do coronel impunha-lhe constantes viagens a capital a busca de tratamento. Pedro e Rosa se mudaram para as proximidades da capital donde Laura e Luizinho moravam numa casa confortável da fazenda adquirida pelo jovem pintor e jornalista, cujo endereço fora omitido ao coronel. Haviam decorrido vinte anos. Cruzilhas era administrado por um mandatário nomeado pelo governador. Por sua ordem um grande cartaz foi afixado na parede da estação ferroviária, exibindo a foto de um famoso pintor e jornalista filho daquela terra que na infância pintou a pequena vila na mesma parede que exibia com orgulho sua fama, que ultrapassou as fronteiras brasileiras.

Ao chegar para embarcar rumo à capital o casal de idosos, não contiveram as lágrimas. Ao depararem com a foto de Luizinho cuja semelhança com o filho Ricardo era de se impressionar. O velho que já não vinha muito bem de saúde pirou por completo. Viajou transtornado e dizendo uma série coisas sem sentido. Na capital foi conduzido ao hospital pelo médico que o assistia. Submetido a um longo tratamento. Recuperou acompanhado pelos melhores especialistas, que o aconselharam a residir na capital, mais perto dos recursos médicos. Manoela acatou a idéia, mas ele discordou preocupado com o seu latifúndio. O médico sugeriu uma temporada de descanso num local alheio aos afazeres de sua fazenda. Coisa difícil de ser aceita por um latifundiário dono de um enorme patrimônio com centenas escravos, e agregados, exigindo sua presença.

Na tesouraria do hospital Manoela acertava os honorários médicos e as despesas de internamento do coronel. Havia uma jovem senhora com um bebê recém nascido que também aguardava para ser atendida pela secretária.

–Desculpe-me senhora pela curiosidade, mas parece-me que ouvi dizer que reside no município de cruzilhas? –Sim, estou aqui acompanhando meu marido! – Eu Passei diversas vezes por Cruzilhas viajando para a França, meu pai é francês minha mãe brasileira, minha avó sempre me recomendou a procurar por uma sua irmã nesta cidade, mas a gente passa rapidamente por La às vezes nem chega descer do trem! –Como se chama essa sua tia talvez eu a conheça! --Não me lembro muito bem, mas daqui a pouco minha avó está chegando com o cocheiro que nos conduzirá a nossa residência, atualmente meus pais estão passando uma temporada em Paris e minha avó cuida de mim, sabe como é não tenho experiência com bebê, é meu primeiro filho. Assim que ela chegar quer apresentá-la e dizer a ela onde a senhora reside, ela vai adorar vive a procura de sua irmã e sua última informação consta o nome desta cidade.

As duas se assentaram na recepção, Certoro impaciente saiu passeando pelo jardim na parte externa do hospital. Quando a luxuosa carruagem chegou o cocheiro apanhou as malas da jovem senhora e as colocou na carruagem. —E minha avó não veio? – Veio passou pela farmácia, vou apanhá-la na volta!--Por favor, volte lá e diga que venha até aqui tenho uma surpresa para ela! Em poucos minutos a carruagem estava de volta conduzindo a nobre dama. Ela desceu usando uns óculos escuros, e antes que Neide sua neta fizesse a apresentação, ela estática observou longamente aquela mulher simpática com seu finos traços sertanejos. --Não acredito no que estou vendo ---, me diga seu nome é Manoela?—Exatamente, eu moro no interior no município de uma pequena cidade de nome cruzilhas! -- Inacreditável procurei por você a vida inteira! Meu nome é Meire eu sou tua irmã, que partiu para o exterior quando você era uma menininha de cinco anos!

(Continua na próxima semana.)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 22/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4098206
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