O FANTASMA DO CUPIM.

Ninguém passava perto do cupim, ao lado do bambuzal. Era uma tremenda disputa, porque por volta da meia-noite aparecia uma figura, semelhante a uma humana, erguia-se lentamente, abria-se os braços e olhava para um lado e outro e ficava por um bom tempo desta forma.

Pessoas que passavam a cavalo não conseguiam passar. Os animais empacavam, não iam nem para frente. Só andavam para trás e bufavam, etc.

Ciclistas e motociclistas não passavam. Diziam ser o fantasma do cupim.

Derivou-se este nome porque há anos fora assassinada uma pessoa perto do cupim e as pessoas diziam que em lua cheia, por volta da meia noite, ele saía e ia procurar pela pessoa que a assassinou. Eram tantas histórias, que muitos não sabiam ao certo. Porém, toda noite de lua cheia estava aquela figura, meio branca, muito grande e de braços abertos.

Carlos, um senhor já idoso e bastante religioso dizia que isto não existia. Poderia ser uma visão das pessoas, psicologicamente trazia esta imagem em sua mente e quando o medo aumentava esta figura se transfigurava na imaginação como sendo um fantasma.

Talvez seja certo, mas sendo noite de lua cheia, ninguém passava.

Chegaram até celebrar uma missa no local, mas foi celebrada durante o dia, porque o padre e as pessoas se negaram de celebrá-la à noite, porque o fantasma poderia aparecer e atacar a todos.

Era um caos tremendo. O dono da terra, onde se localizava o cupim e o bambuzal, não conseguia vender a propriedade, mesmo oferecendo um bom desconto. Na cidade, era chamada de terra do fantasma. Diziam que as vacas tinham medo de pastar naquelas proximidades em noite de lua cheia. Nem gavião, nem coruja e seriema ousavam passar por aquelas bandas.

Em uma sexta-feira, houve uma cerimônia religiosa. Era noite de lua cheia. Poucos aventuraram em participar, porque muitos deles tinham que passar no dito caminho, sendo essas pessoas que moravam nas regiões rurais.

Senhor Carlos não perdia uma festa na cidade. Sempre que ouvia pelo rádio a notícia de festas lá ia ele, com seu cavalinho branco, de chapéu preto, botinas, terno, capa na garupa do cavalo, um par de esporas e um guarda-chuva. Não perdia uma só festa, mesmo sendo noite de lua cheia. Lembro-lhe que não marcavam festas em noite de lua cheia.

Senhor Carlos foi ao banco, fez compras para a família, foi à igreja, foi ao cemitério, sentou-se na praça para conversar com os amigos e foi fazer uma visita à casa de seu compadre e ficou por lá até altas horas, ou seja, esqueceu do tempo e foi embora por volta de meia-noite. Seus compadres queriam que ele ficasse, mas era muito teimoso e de palavra decidida. Disse que iria embora e não tinha medo de nenhum fantasma. Ele era de muita coragem.

Em seu cavalo, saiu. A noite estava clara como um dia. Não se via ninguém pelas ruas da cidade. Um pouco à frente, o comandante da polícia estava e falou com o Sr. Carlos para ter cuidado com o fantasma, porque era noite de lua cheia e ninguém passava por aquelas bandas. Mas ele nem ligou. Disse que estava na companhia de Deus e que não tinha medo de nada. Se fosse o fantasma do cupim, ele ia perguntar o que queria. Se o atacasse, ele meteria a espora o fantasma e batia-lhe com corda do cavalo. Se o fantasma não o atacasse, ele passaria normalmente e jamais ia falar alguma coisa.

Lá se foi o Sr. Carlos. Cantando uma música bem romântica, que despertaria qualquer fantasma, mesmo que estivesse adormecido por vários anos.

A noite estava bem clara. A lua cheia iluminava a estrada que parecia um dia. Quando já se aproximava do cupim, Sr. Carlos pensava o que foi fazer ali. No fundo, ele estava com um pouco de medo, mas não demonstrava porque tinha que ir embora de qualquer maneira. Era noite, sua família poderia ficar preocupada com sua demora. No outro dia, precisava tirar o leite, capinar e cuidar do sítio. Voltar, seria para ele uma derrota. As pessoas da cidade poderiam fazer chacota com ele, que se dizia muito corajoso e sempre firme psicologicamente. Ia assim pensando, quando ele percebeu, em sua frente, ele se depara com aquela figura. Levantava-se lentamente, erguia os braços, como se fosse abraçar alguém e caminhava na direção do Sr. Carlos. Assustado, mas não podendo correr, porque o cavalo estourou e saiu correndo rumo à cidade, não restou outra coisa a não ser o enfrentamento do fantasma do cupim. Sua única arma era o freio do cavalo, ou seja, a rédea do cavalo que ao estourar ele conseguiu segurar.

Sentiu-se um pouco de medo, mas o fantasma caminhou para seu lado, de braços abertos, gemia. Cada vez chegando mais perto. Quando a figura veio para seu lado, muito grande, de braços abertos e aproximando dele, Seu Carlos não teve outra alternativa. Com o freio nas mãos, deu-lhe vários golpes até derrubar a criatura. O espanto foi tanto que quando já sem vida a tal figura, ele reconheceu ser um animal denominado tamanduá-bandeira. Um animal grande, que em noites de lua cheia sai de seu esconderijo e ia comer formigas no cupim.

O chefe de polícia ficou surpreso quando o cavalo de Seu Carlos chegou sem ele e pouco tempo depois chega Sr. Carlos arrastando o tamanduá e disse que era o “Fantasma do Cupim”.

No outro dia, Seu Carlos foi chamado pelo prefeito e recebeu uma medalha em comemoração por ter desvendado o mistério que assombrava a cidade.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 27/01/2013
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