PEQUENA HISTÓRIA DE UM MENINO TRAVESSO

PEQUENA HISTÓRIA DE UM MENINO TRAVESSO

(*) Edimar Luz

Certa vez a mãe de um menino travesso, ao sair de manhã cedo para lavar roupa no rio que banha a região, pediu para que o mesmo prestasse muita atenção e cuidasse da ninhada de pintos de uma galinha que acabaram de nascer, pois ali nas proximidades daquelas serras e morros onde moravam, existiam muitos gaviões e carcarás; aves predadoras muito comuns nos campos do Sertão. A mãe avisou também para seu filho atiçar o fogo do fogão a lenha, e na medida do possível pôr água na panela, e, ainda, que não deixasse queimar o feijão. O arroz e a carne do almoço ela faria ao voltar do rio que passava a cerca de três quilômetros de sua casa. Aliás, aquela incumbência parecia mais uma forma de castigo para com aquele menino impulsivo cujo pai, desde o alvorecer, estava campeando nas chapadas distantes da região.

Acontece que naturalmente naquela idade juvenil, jovial, aquele menino queria brincar, e, portanto, arquitetou um engraçado e inusitado plano: na tentativa infrutífera de salvar os filhotes de galináceo da possível captura que podiam empreender as aves de rapina, amarrou-os todos juntos pelos pés, ajoujados num barbante de caroá. E por precaução, também colocou bastante água e lenha para cozinhar o feijão que estava na panela já fumegando sobre as trempes do fogão. Na verdade, o pior viria acontecer, pois no descuido do menino que brincava não muito longe dali, um gavião grande, faminto, capturou todos os pintos jungidos e num vôo relativamente baixo por sobre as matas e os campos do lugar (talvez em virtude do peso), carregou-os de uma só vez em suas garras fortes e pontiagudas. Enquanto, aflito, em vão o pobre menino solitário saiu correndo em perseguição àquela imponente ave, que alçou vôo e pousou com suas presas num alto e íngreme talhado de uma grande serra ali das imediações e desapareceu por entre as colossais e elevadas rochas. Provavelmente ali naqueles altos e compactos rochedos, um lugar de difícil acesso, localizava-se o ninho daquela exterminadora ave de rapina. Ao retornar para sua casa, aquele garoto, desesperado, percebeu que infelizmente também o feijão já havia queimado. Tudo isso inevitavelmente resultaria numa surra de chinelo que mais tarde levaria de sua mãe; mais ou menos depois do meio-dia, quando, cansada, ela então chegasse do rio com as roupas lavadas.

Mas, aquele menino conseguiu fugir da perseguição e fúria momentânea de sua mãe, retornando pra sua casa muitas horas depois, quando ela, sua mãe, então, já estava de cabeça fria. E, assim, o garoto, esperto, conseguiu escapar e se livrar de uma surra...

(Conta-se que ele conseguira fugir, principalmente porque tinha medo de abelhas, e havia um enxame por perto, acima da sua cabeça onde estava preso às mãos de sua enraivecida mãe).

Essa história ocorreu há muito tempo, possivelmente ainda nos longínquos anos 20 ou 30 do século passado (Século XX). E, assim mais ou menos como uma espécie de anedota, era divertidamente por aí sempre contada muito tempo depois também pelo próprio protagonista daquela saudosa e hilariante cena.

Há algum tempo, ele, em idade já bem avançada, ainda costumava andar e contar histórias aqui pela nossa região.

E também ouvi muitas vezes o meu pai e os meus tios contarem esta história.

Porém, o certo é que ninguém jamais soube se realmente esse fato antigo aconteceu. Mas, o velho contador de anedotas e de histórias engraçadas afirmava que era mesmo verdade, dizendo que com ele aquilo havia mesmo acontecido. Quem sabe...

Obs. Do meu livro MEMÓRIAS DO TEMPO. Direitos reservados.

(*) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, articulista, memorialista, compositor, professor e sociólogo formado em Recife – PE.

Picos - PI, 26/03/2010.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 06/02/2013
Código do texto: T4126784
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