Casa grande

Casa grande era um termo usado pra nossa casa, a criançada chamava assim, acho que era porque éramos pequenos, e tudo parecia ser amplo, o meu quarto, uma vez lembro cheguei ate mesmo contar doze camas, parecia ser uma colônia de férias, o corredor eram extenso, paredes pintadas em tons pasteis, os quadros se harmonizam, ora acrílico, em outros artesanato tudo confeccionada pela as mãos delicada de minha avó, as dependências da casa eram infinitamente desproporcional.

O maior cômodo era o quarto da minha avó, o guarda - roupa embutido na parede, aproximava ao teto, tendo apenas um pequeno lugar perto do forro, e justamente no curto espaço que em costumava me esconder nas brincadeiras de menina, nenhuma pessoa me achava, em outra ocasião me ocultava por detrás das cortinas rendadas.

Cresci feliz na casa grande, dias de sábado era animado, vinham todos para a sopa, quando enjoavam a tia Durica, inventava outro atrativo, às vezes era o chá das cinco, em outros era o pudim de coco, as tortas de banana, que só perdia em sabor para a torta de farinha de tapioca, que eram tradicionais, nos reunimos sempre ao redor da mesa, quando não tinha nada a comemorar, inventávamos, assim a casa grande era alegre, feliz, casa da “Tia Durica”.

O quintal era arborizado, tinha mamão, laranja, cacau, abacateiro, jambeiro, as goiabeiras, foi de lá que em uma tarde após chegar da aula, afoita subi, nos galho da goiabeira, no meu pé preferido as goiabas eram maiores, vermelhinhas, saborosas, eu era a única a chegar nos galhos mais alto, por ser magrinha desafiava a lei da gravidade, isso até uma bela tarde, fui traída pelo o meu galho, ele não suportou, meu peso, e por entre folhas e galhos, vi meu corpo deslizar, em fração de segundo estava no chão, com o tombo e o susto não conseguir respirar minha vista escureceu, e foi o Tio Edson que me balançou vigorosamente, pra minha vida voltar, fiquei muito tempo com o braço engessado, das goiabeiras dei um tempo, tinha medo de cair novamente, entretanto criança esquece as coisas muito rápidos, agora era os pés de ata a minha paixão, por ser bem baixinho eu subia rapidinho, comia as atas e só, não tinha muita emoção.

Brincadeira legal era com o Danger, um cachorro da raça dobemam, eu criei desde filhote, era o meu xodó, adora desafiar-lo , deixava ele bem irritada, então corria chamando por ele, e me pendurava nos galhos das arvores, ele ficava latindo em baixo, às vezes ele era mais rápido, e quando me pegava, rasgava minhas roupas, puxava meu cabelo, mas não mordia, bom parceiro de brincadeiras, isso até o dia em que chegou um outro cachorro, o Atila, um pastor alemão adulto, feroz, passamos muito tempo pra nos afeiçoar -mos a ele, o Dange não aceitou o novo companheiro, viraram rivais, não podiam se encontrar era briga ma certa, por sorte todas as vezes que isso acontecia o Tio Edson sempre estava em casa, e era o único a conseguir separar os dois, eu sofria com isso, o meu cachorro sempre levava a pior ficava muito ferido, do ultimo confronto entre os dois, eu nunca esqueço, pois tenho a marca da violência, na perna fui apartar a briga deles, eles me derrubaram, sendo pisoteada; Durante muito tempo, até ser atacada, com violência na perna, e mais uma vez o Tio Edson chegou na hora, e me tirou do meio da briga, isso foi a gota d’água, tivemos que nos desfazer de um deles, então vi o meu parceiro de tantas brincadeiras ir embora, ele foi pra outra casa, morrendo algum tempo depois acho que foi de tanta saudade.

Assim era a casa grande, cheia de crianças, eram sobrinhos, amigos, filhas e filhos adotivos, não lembro um só dia em que não tinham pessoas de fora amigas da casa, foi assim com a Tia Nega, Seu Teófilo, Seu Artur, Franciné, Tia Dica, foram tantos agregados, que nem lembro mais dos nomes.

A casa grande era um abrigo garantindo, a todos, sempre havia um lugar acolhedor.

Quando casei, tive que deixar a casa grande, o meu quarto de menina, minha cama, o grande guarda-roupa, que eu mesma por varias vezes fiz dele meu esconderijo, em outras vezes me sentava dentro dele pra ler ou escrever alguma coisa, ele fazia parte do meu universo de criança, minha fase adolescente.

Algumas vezes retornei a casa grande, não, como membro da casa, agora eu era visita, dividia também os almoços ou lanches que era convidada, entretanto o amor pela a casa era o mesmo, desejava que minhas filhas tivessem crescido em uma casa assim, segura, arborizada, acolhedora e feliz.

Em meus sonhos de infância, o cenário é a casa grande, na minha fantasia a casa parece como da época que morava por lá; Fiquei triste quando a Tia Durica decidiu vender o domicílio, senti-me sem referencias, no entanto, já não era bom para ela morar com tantas lembranças a casa era grande de mais, todos se foram, as visitas eram esporádicas, a casa já não era tão feliz como antigamente.

Tia Durica comprou outra casa, afirmou que não queria casa grande e essa sim, seria bem menor, pois era pouco que nela iria morar, todavia “Tia Durica”, é sinônimo de muita gente, amigo, parentes e agregados, a casa grande mudou –se somente de endereço.

Ela dormia protegida, na casa antiga na casa nova ela já foi violada por duas vezes, chegando a triste conclusão que agora com certeza ela precisava urgente de novo domicilio, lugar que desse total segurança, Macapá com certeza não é mais a mesma.

Ontem, após muito tempo voltei a antiga casa, agora com novo proprietário, nova vida, nova casa.

Passei os olhos no antigo corredor, nos quartos, as paredes não são mais pasteis, no meu antigo quarto de menina, as coisas se modificaram.

Meu coração bateu descompassado, entrei no antigo quarto da minha avó, presenciei um drama, que gravado estava na minha mente.

Lembrei quando eu tinha sete anos, e vi o meu avô partir, o frasco de oxigênio verde, a mesa com remédios, cadeiras nos cantos do quarto, os familiares amigos conversando coisas corriqueiras pra disfarçar o nervosismo. No mesmo lugar a cama, única diferença, era que a cama não era branca, hospitalar, era cama comum bem mais baixa. E quem agora estava estendido era o meu querido Tio.

O mesmo que me socorreu da queda da goiabeira. O que me tirou dos dentes dos cachorros em fúria. O que carinhosamente me batizou, dando a mim um apelido todo especial, “ Ximiscuim”.

Não sei o porque desses pensamentos agora, deu vontade de rir, lembrei-me que quando ele viu minha filha Diely, falou logo _ “Há! essa é a micuinzinha, é assim ele a chamou até mesmo na festa dos 15 anos da moça, que de micuim não tinha mais nada.

Refeita dos meus pensamentos, encarei a cena, seu olhar triste, e a confirmação com os olhos, ele me reconheceu.

Sentira o fim, que estava próximo, seus olhos aparentemente inertes, mas conhecedor do que se passava ao seu redor, calmo, aparentemente tranqüilo, o semblante, esse eu já havia visto antes, era o mesmo do meu avô, senti um arrepio, essa drama eu nunca vou esquecer, afinal por duas vezes ela se repetiu, agora é ele quem parte”.

Com certeza cumpriu seu papel na vida, dele os muitos ensinamentos, saudade que nem o tempo apaga.

Da casa grande, com certeza as recordações não irão se apaga, tirei uma lição muito importante, a casa nem era assim tão grande, grande é o coração da dona da casa Tia Durica, que a todos ama e ajuda.

Grande vai ser a multidão que vai estar onde ele estiver, casa nova, ou velha casa, na única expectativa que seu coração seja sempre feliz.

Dilene Moreira
Enviado por Dilene Moreira em 15/03/2007
Código do texto: T413292
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