A GRANJA DO...

                                 Capítulo III




O resto do dia lhe foi frustrante, e mais ainda preocupante. O impulso do desejo seguramente o cobraria com mais rigor; o passar dos dias exigiria dele estratégias ardilosas que pudessem, finalmente, cumprir seu objetivo trivial do prazer, e quiçá, altamente nobre da preservação da espécie.
Pôs-se, então, a meditar. No cair da tarde, recolhido à fronde de afastado abacateiro, isolou-se da rotina mundana; tinha no coração a fé dos eleitos, e a ele, por conta disso, foi concedida a graça. Um dos frutos, pênsil na proximidade do solo, esborrachou-lhe na cabeça acionando-lhe o cérebro; este, na rotação do assombro soprou-lhe o conselho: “Haja com astúcia e carinho, faça as meninas acreditarem que os pequenos frascos guardam os melhores perfumes. Que tal?”
Não precisou muito esforço ao Quinzim acatar o conselho, mormente seu físico e particularidades ter as mínimas chances de lograr êxito quando da perseguição às robustas aves. O jeito era mesmo na lábia. E o laço, por mais piegas que fosse, pegou.
Assim, fazendo-se passar por um pobre galinho enjeitado, desamparado e solitário, se aproximou insidioso. Asinhas descaídas, cabisbaixo, pôs-se a ciscar tristonho à vista de três galinhas que, a julgar por ele, tinha o perfil de qualidades maternais. Estava certo o danadinho: ganhou de imediato a confiança das comadres piedosas. Passo seguinte não era convencê-las das suas necessidades?  Olho vivo, cérebro desperto após a “abacatada” já estudara aquelas de atitudes piedosas, de caráter compreensivo que acertadamente não lhe negariam o acasalamento.
Meses depois, a estratégia sugerida fora amplamente vitoriosa; o galinho já “traçava” soberano grande parte da galinhada. 
Corte de Gorobixaba
Enviado por Corte de Gorobixaba em 14/02/2013
Reeditado em 22/02/2013
Código do texto: T4140478
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