A GRANJA DO...


                                                           Cap. IV

Cumpre-nos esclarecer que esta fase lhe fora propícia; ao longo da sua passagem pode concretizar e assim superar o trauma criado com a desastrada reiniciação sexual por ocasião da chegada. A questão da rejeição e da humilhação sofrida junto à franguinha carijó das pintas havia passado, e nada como gozar da franquia que a fama lhe granjeara, via da propaganda bico a bico na granja. Tamanho não é documento, carinho e jeito,--- no caso,--- também conta. E Muito! E não é a propaganda a alma do negócio? Veio daí o interesse da pernalta das pintas pelo “negócio” do nosso herói. A tarde era amena, inspiradora, de caráter bem especial --- divinamente especial --- apropriada a que os dois personagens se encontrassem; nada mais interessava no mundo àquele coraçãozinho doidivanas a bater apressado, movido pelo amor e pelo tesão, a não ser a visão estonteante da franguinha ali, em meio da relva e das flores; a brisa fresca embalava suave os cachos floridos donde exalava agradável perfume. Ei-la, objeto do seu delirante desejo, causa de sua grande frustração inicial ali, à sua asa, asa não, aos seus pés, vencida e convencida das qualidades do amante. Os céus conspiravam a este encontro. E a fraguinha veio e se agachou, tal a uma virgem recatada e tímida em busca do sopro da vida, da razão de viver. E o amor aconteceu. Uma bicada de carinho final encerrava o romance. Eis que a vitória lhe trouxe “o sentimento de glória ultra-galináceo o elevava acima do transitório e do perecível por que tivera um momento de divinização entre o mirto e o tomilho”. (*) Tal era seu espírito saciado e liberto das pressões sujeitas aos galináceos.

(*) Eça de Queiroz, em Cartas de Fradique a Clara - O autor do presente conto utiliza um pequeno trecho do livro em condições de ânimo similares, trocando "ultra-humano" por ultra-galináceo.