Se, porém, de um lado as coisas fluíam para seu bem estar, não há almoço grátis, meu camarada, dizem os Economistas; os interesses dos dois galos, contrariados com a nova e exitosa concorrência, encontraram, no viés da coincidência, a visita justamente de um amigo do granjeiro, homem com práticas do mercado. Embora o granjeiro não fosse homem ambicioso, o amigo visitante tinha o pendor de tudo avaliar na vida e dela tirar alguma vantagem que ele absolutamente não viu com o garnisé atuando. (Nessa altura o merdinha já comia todas!)
--- Certamente, meu amigo! --- Respondia o visitante ao granjeiro --- Observe o tamanho dos ovinhos gerados!... Isso no mercado é uma desgraça!... Crie codornas então, é melhor! Enfatizou terminando.
O pobre granjeiro a contragosto anuiu ante os argumentos do outro, embora, de pronto, não tivesse solução para o caso. Afligia-o duas questões: a pequena ave sendo presente do pai, expressa e cordialmente recomendada no leito de morte, reveste-a de proteção especial; a isso juntava a piedade do seu bondoso coração que refugava sacrificar o criticado reprodutor.
--- E, então, o que decide?  Tornou o visitante.
--- Reconheço a sábia recomendação do amigo; reconheço, porém, que de fato, mesmo o garnisé me sendo desfavorável não tenho como descartá-lo facilmente... Questões sentimentais mo impedem. Disse lacrimando.
O do mercado coçou a cabeça.
--- Adie a solução.
--- Pois é. Concordou o homem aliviado.
Em que pese a solução transitória encontrada quanto a atuação do galinho na produção, nova nuvem de descontentamento pairava sobre o galinheiro: a bronca dos dois galos primitivos sendo repelidos por certas cativas que os recebiam outrora de asas abertas  agora simplesmente os repudiavam.
Ante o malogro do visitante com suas exigências de mercado foram se queixar ao granjeiro. Humilhados, cabeças quentes guardavam, todavia, respeito ao dono. Perfilados ante ele, foram adiante:
--- Senhor!... Temos uma reclamação a fazer!
--- Do que se trata, amigos?
--- Do meia foda, Senhor!
--- Do meia foda?!!! O que é isso, rapazes?
--- Do galinho, Senhor!
--- Ah! do galinho!... E o que tem o meia foda?... Ora, meia foda, por que     meia foda?
--- Evidente, Sr...
--- Mas...
--- Ele invadiu nossa seara, Sr... muitas das meninas tem dificultado a trepada (fato que inicia o acasalamento dos galináceos)... algumas das quais, mais ousadas, tem inclusive rejeitado o ato... Pode?
--- De fato, --- concordou o dono --- um novo problema com o Quinzim!
--- E tem mais: o Sr. ainda pode ter outros.
--- Outros?... Como assim?
--- O Sr. já deve ter ouvido falar que todo baixinho é invocado, não ouviu?... Pois bem, o meia foda aí, além disso é de natureza rusguenta; já o juramos boas vezes; fique pois sabendo: quando o pegarmos a culpa não será nossa...
--- Por Deus!... Não quero violência aqui! Cortou o granjeiro atemorizado.
--- E o pior ainda está por vir: imagine o bostinha atuando desenfreado por aí; a qualquer hora o Sr.  corre o risco de ver nascer, em sua granja, uma verdadeira e horripilante escória genética, uma aberração execrável por conta do desequilíbrio das raças! Ameaçou desenvolto um deles, intentando impressionar ainda mais o pobre do granjeiro.
--- Será? Titubeou o granjeiro.
--- Dito e certo!... É ele por aqui e o Sr. terá prejuízos nos ovos e correr ainda  o risco de ver a granja ser vista como geradora de aberrações!