Minduin.


Em uma época qualquer de minha vida conheci Minduin.
Minduin porque nasceu do tamanho de um minduin.
Era um cachorrinho amarelo, que dizemos sem raça. mas se Minduin tinha era raça.
De madrugada chegavam à porta da escola.
Seu dono não tinha nome ele mesmo dizia Nego Veio, e Nego Veio ficou.
Sentava nos degraus de uma antiga casa abandonada, punha seu enorme saco de bugigangas do lado, punha duas latinhas de goiabada no chão, em uma colocava água e na outra qualquer coisa resto de comida, bolachas, pão velho, etc.
Enfim era o lanche de Minduin.
Quando as mães corrigiam seus filhos que queriam ver o Minduin, é amendoin filho, não mãe amendoin é de comer.
Minduin é o cachorro artista.
Quando começavam a chegar às crianças.
Sob comando de Nego Veio,
Minduin, dormia, saltitava, virava cambalhotas, andava em três patinhas como se estivesse machucado.
Levava a platéia ao delírio.
Quando se aproximava das oito horas, Nego Veio se levantava, pegava as latinas de água e de comida, guardava a água em uma garrafa, e a comida num saquinho.
Vamos embora Minduin, os moços tem que estudar.
Saíam  dali iam para a creche da prefeitura onde tomavam sopa, após um show de quase uma hora, saiam de novo para a rodoviária, depois para um asilo, depois a praça, e no final da tarde, a escola outra vez.
Na boca da noite eram convidados para o jantar no restaurante do Sr João, que os tratava como convidados especiais.
Após o jantar, desapareciam para de manhã aparecerem à porta da escola.
Dava para cronometrar a visita destes anjos bons.
Mas Papai do Céu faz coisas que nossa pobre compreensão não entende, e Nego Veio teve de mudar de plano.
De manhã Minduin desesperado, pois estavam atrasados.
Chegou até a morder sua mão gelada.
Alguma alma boa chamou a assistência que nada pode fazer a não ser levar o corpo ao IML.
Na cidade ninguém conseguiu conter a emoção.
No caminhão da prefeitura Nego Veio ia para sua derradeira morada, Minduin seguia atrás quieto, não chorava, não latia, mas sua dor era repassada para todos os moradores da cidade.
De repente próximo ao Cemitério, Minduin ganiu dolorido e correndo saiu do féretro desaparecendo.
Ninguém teve notícias dele, não foi à escola, nem ao restaurante do Sr João.
Simplesmente havia desaparecido.
No cemitério alguém avisou a administração, Minduin fora encontrado.
Estava morto sobre a sepultura do amigo.
Seu pequeno coração não agüentou a falta.
Hoje penso como seria bom ter um amigo assim.
Nestes muitos anos que vivi, tenho encontrado todo tipo de amizade, mas nenhuma como Nego Veio e Minduin.


Machado
Veneno de cobra.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 20/02/2013
Reeditado em 20/02/2013
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