O CUMPADRE E O RICARDÃO

- Cê lembra daquele causo queu falava que minha muié tava cum mania de rezá terço na hora H?

- Lembro cumpade. Cê inda falava quela só parava de rezá quando cê cumeçava a roncá, né memo?

- Antão. Será caos de que as muié num gosta quinem nóis cumpade?

- Será qué por causo lá das história da maçã, o negóço é meio pecado?

- Pecado cumo? Foi o padre que bençoô nóis sô!

- Antão pode sê medo...

- Medo de quê cumpade?

- Uai, medo de tê mais fio.

- Remedinho inrriba da geladera, eu memo alembro prela tomá todo santo dia.

- Então só pode sê uma coisa, cumpade?

- O quê?

- O tar de Ricardão....

E o compadre, rapaz ainda novo, saiu desembestado “prum buteco” mais perto, encheu a cara, brigou com o sogro, com a mulher, pediu as conta e sumiu no mundo.

Vinte anos depois, estava o compadre pescando num lago em sua cidade quando aparece o dito que tinha sumido no mundo.

- Que saudade compadre?

- Falano diferente sô!

- É que mudei pra SP...

- Ah...

- Mas você não mudou nada?

- Sei...

- Continua casado?

- Fazê o quê, né memo?

- Lembra daquela história de Ricardão?

- Claro uai.

- Resolvi virar um.

- E daí?

- Já casei cinco vezes e parece sempre que tem outro Ricardão, acredita?

- Cridito.

- Estou ficando velho, como é que eu faço?

- Uai..., já que num deu certo o primero casamento, os Oto tamém não, diz qui tá na moda virá gay...

- Gay compadre! Com quase cinquenta anos?

- Que qui tem? Nunca é tarde pra aprendê coisa nova cumpade.

Some o homem de novo pelo mundo. Passam-se mais dez anos. Aparece de caminhoneta importada, careca por estar fazendo quimioterapia por causa de um câncer na próstata.

- Ficô rico cumpade?

- Até que fiquei, mas não adiantou foi nada, tá sabendo!

- Que qui cunteceu dessa veiz?

- Uai, até que estava bom. O cara era estrangeiro, me levou para conhecer o mundo, mas depois...

- Dispois?

- Enjoei daquele bafo de bebida e fumo no meu cangote.

- ...

- Quando comecei a negar fogo, o cara me abandonou achando que eu tinha outro.

- Um Ricardão?

- Isso.

- Tô te falano...

- ...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 21/02/2013
Código do texto: T4152562
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