A Morta do Retrato.

Na minha pré-adolescência, meus pais, meus tios e vizinhos, contavam aterrorizados uma história misteriosa que aconteceu na região. Para um povo de crenças arraigadas nos fenômenos sobrenaturais, aquele acontecimento era o maior exemplo de justiça divina. A história envolvia um sitiante e a prima da esposa. Nasceu um romance entre o sitiante e a parente da sua esposa,envolvidos em grande paixão, resolveram dar cabo a inocente mulher. A esposa do sitiante nutria grande amizade pela prima e nunca passou pela sua cabeça que havia traição e um plano para mata-la. A prima imitando boa atriz, fingia carinho, com presentes dizendo loas para engabela-la .Os amantes engendraram um plano macabro, isto é, assassinar a mulher em um crime perfeito. A traidora confeitou um delicioso bolo com recheio de estriquinina. Feliz da vida a mulher comeu e morreu poucas horas depois. Naquele tempo ninguém falava em corpo delito, medicina legal, afinal estes processos modernos sobre pessoas mortas sem assistência e laudo médico para atestado de óbito. Muitas tristezas e lágrimas de parentes e amigos. A falecida era muito querida na comunidade e no meio religioso, era uma muito devota de N S Das Dores.. Tantas foram as recomendações a Nossa Senhora para que à recebesse no céu e ficar ao lado do Senhor na vida eterna. Sepultada, os assassinos deixaram passar o período de luto para marcar o casamento. O sitiante exibia uma tarja preta na manga da camisa e a amante era poço de (tristeza).

Resolveram casar, papelada no cartório e na igreja. Depois da celebração, foram para as fotos. O fotógrafo percebeu uma sombra perto dos recém casados. Pediu para mudar de ângulo, mas a sombra continuava, a todos lugares a sombra sempre acompanhando. Teve um momento que se irritaram e mandaram bater a foto com sombra e tudo, com a resalva de que se não ficasse boa nada pagariam. Ao ser revelada, o casal ficou perfeito, porém uma intrusa, a mulher que morrera envenenada aparece na foto segurando o bolo numa mão e um terço na outra. O fotógrafo levou ao padre, que através de uma lupa identificou na medalha do terço a estampa de N S das Dores. O padre achou prudente entregar a foto a polícia. O casal foi preso e só de ver a foto já foi confessando o bárbaro crime.

Contavam que a assassina ficou louca e foi levada para o manicômio de Barbacena – MG . Diziam que ela tomou o chazinho da meia noite, diziam que era um processo de eutanásia para loucos incuráveis .O sitiante tomou !5 anos de cadeia e se matou na prisão.

Contavam essa história com a maior convicção. Chegavam a dizer que viram a foto.

Lair Estanislau Alves.