A GRANJA DO...     Cap. VII

O fato repercutiu. O granjeiro ante o estado melindroso do pequenino resolvera agir. Eis a razão de um punhado de galinhas, algumas inclusive ajeitando os óculos se esforçarem e acotovelarem-se para ler o aviso no mural do galinheiro. Em letras trêmulas, algumas palavras emendadas, sugerem a prometida reunião do granjeiro com as galinhas; dar-se-ia no dia seguinte da fixação do aviso.
Os três galos por conta dos constrangimentos que pudessem sofrer ou causar, foram aconselhados a não participarem da reunião; o garnisé quis insurgir-se pois queria incriminar com maior rigor a culpa dos adversários frente às galinhas; no entanto o demoveram mercê seu estado e pela pacificação da casa.
E assim, à hora marcada, reinava grande expectativa no galinheiro; a maioria de suas ocupantes cacarejavam presentes, exceto uma ou outra levadas pela idade; já não somavam com a farofa, ou melhor, com a paçoca.
Aberta a seção, o granjeiro cumprimentou a platéia; agradeceu a presença de todas e expôs, breve, os motivos da reunião: se antes conviviam fraternalmente agora culminava a violência mediante bárbaro espancamento; por que antes não, e agora a rejeição aos galos primitivos?...E quanto à produção, que embora modesta, contribuía com a manutenção da granja, de forma que a perda econômica motivada com o tamanho dos ovinhos teria que ser levada em conta; finalmente amedrontou-as caso viesse a ocorrer ali uma aberração. --- Imaginem o nascimento de uma coisa dessas aqui? ... Seria pior que a ocorrência de uma peste da galinha louca, concordam?... A granja estaria arruinada!
É de se pensar que ante tais argumentos e realidade, o garnisé estava inevitavelmente fodido.  O granjeiro dera a entender que havia terminado a explanação das causas da reunião; do silêncio momentâneo seguiram-se conversas paralelas na platéia.
Dúvidas, entretanto, não restavam: o problema central era a figura do garnisé, muito embora ninguém soubesse resolvê-lo.
--- Sugiro deliberarmos o assunto agora e votarmos. Propôs uma com aparência de líder.
Acataram-na mediante a aprovação do granjeiro que permanecia paciente frente a movimentação da galinhada. E assim foi.
A assembléia fora instalada e a seção inaugural dera início.
 
É confortável dizer que até meia hora depois ninguém arrancara penas de ninguém, até porque, a pauta fora deliberadamente mudada;  o que se ouvira foram triviais reivindicações de melhorias no galinheiro e na ração.
--- Gente!... Olhem aqui!... Vamos deixar de papo furado!... A gente veio aqui para discutir o problema do galinho... então vamos lá! Sugeriu a aparente líder.
Ouviram-se assovios e pequeno ensaio de vaias diante do muxoxo de duas galinhonas que, pelo visto, detestavam o pequeno.
--- Qualé a marra, sras?  Alguém ousara se dirigir as duas xexelentas.
--- Nada não!... Acontece que o nosso negócio é com o galão, pimpão e gostosão!  Responderam desdenhosas.
Principiaram então pesadas vaias. A liderança aparente interveio:
--- Isso aqui é uma Democracia, gente!... Estamos aqui para deliberarmos e, portanto, as opiniões são livres e respeitáveis, ora bolas!
A líder aparente passou a encarar a platéia com ar severo e rematou:
--- PQP prôceis, porra!  Serenada retomou a palavra.
--- ...E para mostrar a todas que aqui reina a liberdade de expressão, vamos começar por ouvir as opiniões de nossas duas colegas... Fala, Tiana!  Dirigiu-se a uma das galinhonas. ...Aliás, Tiana, parabéns viu!... Você está muito bem... a malhação para galinhas na nossa idade é muito saudável!... Agora pode falar querida! Numa meia reverência, Tiana agradeceu vaidosa e começou:
--- Sabe o que é, meninas, sou do tipo que gosta da tocada forte;  o galinho me faz cócegas, sabe?... Já os grandalhões não: aquela bicada firme, aquelas coxonas fortes e as asas amplas então?... Aquilo quando me pega vibro feito motor de Chevette, aaiiiii!  Sacudiu-se todinha.
--- Faço minha suas palavras, querida; porém acrescentaria dizer que eles são bem mais experientes e quando, com a veia boa,  chegam a ciciar palavras de amor aos nossos ouvidos.
--- Bem lembrado! Confirmou Tiana.
--- São umas putas velhas! Alguém soprou meio alto da platéia.
--- Alguém disse alguma coisa por aí --- interrompeu a líder aparente –  ......
...Não?... Muito bem!... Venha cá, você --- convocou uma das presentes --- Anote esses pontos para os galos primitivos!
Nesse ínterim já havia passado cerca de 1 hora. O granjeiro adormecera e o calor reinante fez com que houvesse uma paralisação.
--- Senhoras!... Faremos agora um intervalo de 20 minutos para vocês ciscarem um pouquinho a fim de botar os ovos, ops! digo, botar os nervos no lugar.
Seguiu-se a retirada ante o sono solto do granjeiro.
 
Corte de Gorobixaba
Enviado por Corte de Gorobixaba em 24/02/2013
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