A GRANJA DO...                Final

--- Já era tempo! Pensou a líder e prosseguiu.
--- Emanuelle, é você, meu bem!
Emanuelle, ó doce Emanuelle! É o que diria o garnisé caso presente. Emanuelle, da raça gauloise é uma franguinha branca, jovial e sapeca. Embora nova tem no sangue francês as malícias e as artimanhas do Kama Sutra indiano; sabe como nenhuma outra as delícias da carne. Pinta e borda com o nanico. Diz ter uma reclamação dos grandões e mostra a cabeça para a líder.
--- Vês aqui, mon ami,... até há pouco não existiam penas; apenas feridas provocadas por aqueles brutamontes de bicos de ferro e insensíveis! --- fazendo pose se derrete --- Já o meu amoreco é um docinho, mon peu de délicatesse! Saracoteou-se rindo.
--- Terminou?
--- oui, madame!
--- Vamos ver!...Vamos ver!... Edineusa!... Fale, galinha!
Edineusa por sua vez é a imagem do espalhafato. A essa altura, após tanta “discurseira” mal se continha sob as penas.
--- A denúncia da Vanusa Aurélia é muito séria... Vejam que até hoje a Mariana e a Carmem estão encostadas --- os nós cegos dos grandões chegaram e cravaram o ferro sem dó e sem piedade; foi estupro duplo sem a menor cerimônia, pobrezinhas... Nem puderam aqui comparecer... E não é só: se vocês não se posicionarem com firmeza na trepada, os primitivos te desconjuntam, tamanho o peso!... Não raro,  como é do conhecimento geral, eles sempre nos pegam de surpresa e lá se vão as cadeiras para o beleléu!...De forma que a greve imposta a eles foi legal e necessária... Fui!
--- Alguém mais se habilita a dizer?
Os olhares de todos agora se voltavam aos lados, curiosas ao desfecho da seção. Algumas ainda restavam por recolher os pintinhos, a outras arrumarem os ninhos, e pelo que se depreendia não tinham mais tempo a perder.
--- Muito bem, pelo que vejo estão encerrados os depoimentos --- afirmou peremptória a líder --- faremos, a seguir, o balanço dos prós e contras e deliberaremos a decisão a ser apresentada ao granjeiro, concordam?
As apressadinhas, porta afora, apenas sinalizavam aprovando; as que permaneciam também, embora Tiana e Malvina (aquela outra galinhona amiga de Tiana) exigissem ressalvas a favor dos galos primitivos.  De resto...

Haja o que houver ainda vai levar um tempo até que a memória daquele lugar venha a esquecer da memorável reunião. Inclusive, tempos depois, diziam pelas redondezas que nunca tantas passaram a dever tanto a tão poucas, principalmente pela condenação dos galos primitivos e seus métodos brutais e estorvados. No entender de Vanusa Aurélia Sabina e Andrade, o feito veio constituir num marco emancipatório dos direitos individuais das galinhas; todavia antes, num discurso laudatório, lembrou saudosa da luta pioneira de Cimone de Vêvoá Tuti e Detty Freedan Pintadinha, heroínas da causa nos idos de 60, quando as galinhas começaram a mostrar as asinhas. Bastante aplaudida, pediu licença às demais se afastando apressada. Lembrara do encontro com o garnisé, pelo qual estava atrasada.
Concluída a apuração dos prós e dos favoráveis ao garnisé, os galos primitivos foram amplamente condenados. O estupro, o mais vil das ações praticadas foi considerado crime hediondo, levando seus executores a cursarem um tutorial à distância sobre educação sexual, observada severa abstinência, o que mereceu a indignação das duas galinhonas, Tiana e Malvina, que queriam ministrar, a eles, as aulas ao vivo e a cores.
Deixando de lado esse pessoal aborrecido, vamos ao encontro de nossa francesinha Emanuelle a comandar, junto de Quinzin e a carijó das pintas, animado ménage à trois.
Afinal, quem pode, pode.
Corte de Gorobixaba
Enviado por Corte de Gorobixaba em 01/03/2013
Código do texto: T4165630
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.