A TRISTE SINA DA ÁGUA

Como hoje é o dia mundial da água, coincidentemente, meu primeiro artigo no Recanto foi sobre a água. Peço perdão aos apreciadores de meus causos, mas num deixa de ser um causo porque a água, danadinha como ela só, andou "inté" na cabeça dos indivíduos...

Esfolada, agredida, pisoteada, mas mesmo assim se via alegria em suas borbulhas. Desceu resignada e sem medo de encarar seu destino porque sabia que sem ela seus predadores não sobreviveriam.

Em sua descida viu de tudo.

Viu um proprietário de terras arrancando árvores em sua nascente para plantar alimentos direcionados às exportações... Que horror! Pensava. Esse indivíduo vai morrer seco!

Já dentro da cidade ficou mais horrorizada ainda. Era tão utilizada que perdeu o tino quando desceu por uma descarga e caiu dentro do rio de novo muito mal acompanhada. Que horror! Já gritava.

Por obra da mãe natureza caiu uma chuva forte que a carregou junto com esgotos, defensivos agrícolas, sacolas plásticas, pedaço de pneus, terra também esfolada dos morros, tinha até corpos dos predadores...

De repente uma pequena calmaria num grande lago. Diziam que era “reserva legal” de água que iria abastecer uma grande cidade e precisavam de tratamento. E como foi bem tratada. Tiraram-lhe todos os resquícios humanos menos os agrotóxicos que impregnavam sua mente.

Mas mesmo assim se sentiu encanada, bombeada, tratada de novo como se estivesse com doença brava. Sentiu-se importante quando caiu num grande palco iluminado onde tinham alguns poucos que falavam dela. Parecia um grande circo. Outros a bebiam como se não tivessem nada para fazer e ficavam lhe bebericando como se estivessem num bar jogando conversa fora.

Falavam da beirada dos rios com o nome de APP, onde poucos entendiam e iria ser sacrificada igual em sua nascente onde os bovinos a bebiam no nascer. Falavam de anistia para esse tipo de predador que a ganância sobrepõe à lógica da vida.

Já cansada dessa baboseira toda, resolveu ir no sangue daqueles que a bebericavam. Já no cérebro do predador entendia o seguinte: “Temos que aprovar essa lei desse jeito senão os latifundiários vão perder milhões de hectares”. Tocou o telefone onde o predador respondia: “Se não aprovarmos essa lei hoje, eu não me chamo governo! Fiquem tranquilos que já está tudo acordado com a oposição.”!

Resignada como sempre; em vez de aproveitar o telefone do predador e ligar para a mãe natureza dizendo que aquele indivíduo tinha minhoca na cabeça; desceu do cérebro junto com aquele sangue, passou por aquele coração frio, e aproveitando uma pequena ferida foi parar no intestino, caminho mais lógico de voltar ao rio.

Já no rio, antes de ser tratada e esfolada de novo; olhou para o céu e pediu a mãe natureza que a levasse com um calor intenso...

E a água foi viver no céu, em lugares que os antigos predadores chamavam humanos; que pensam na terra como um todo...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 22/03/2013
Código do texto: T4202505
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