CrôniContando – A Estante Perdida Entre Crônicas e Contos

Ela não sabia o que lhe agradava mais naquela estante: se seu cheirinho de móvel novo misturado com a poeira fina dos livros, ou a imagem agradável às suas retinas quase sempre cansadas da claridade impiedosa dos seus sóis. A pilha de papéis que ia crescendo ao redor dos livros parecia pedir-lhe um pouco de ordem e ela até pensava em dedicar algum momento para isso. Mas no fundo, aquela desordem era o que lhe provocava um certo êxtase. Ela gostava do movimento, da sensação leve e distinta de que a vida, de uma forma ou de outra, acontecia naquele quarto. Uma certa folia. Mas toda a estante era para ela um singelo afago no cômodo palco para todas as suas formas de descanso.

Devo dizer que o fato de contar uma história em terceira pessoa facilita o distanciamento, permite uma dose maior de poesia e a minha estante de livros pode ser descrita de forma mais bonita. Eu não poderia dar as coordenadas geográficas de onde ela se localiza no meu quarto, mas nesse mesmo local, já houve um mural, já houve uma representação de universo onde eu colava meus desejos com puro interesse de que ele me devolvesse. As belas pessoas que acompanham minhas humildes letras podem até se lembrar. E caso queiram saber porquê eu dou tanta atenção pra esse espaço, deixa que agora mesmo vou te microcontar:

‘...Na hora do repouso, ela focava as pupilas em tudo que fosse belo. Folga para as janelas da alma...’

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 08/04/2013
Reeditado em 08/04/2013
Código do texto: T4229738
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