O CAIPIRA TOMBA LÔBO

Na linguagem sertaneja tomba lôbo, eram palavras aplicadas ao elemento sem instrução um matuto caipira equiparado uma espécie de bobo da corte, ou até mesmo ao mais esclarecido ao cometer uma gafe, ou seja, qualquer deslize que o levasse a ser alvo de chacota.

Quando me casei morei durante dois anos numa fazenda arrendada próximo ao povoado da Extrema, trabalhando na roça, consegui me relacionar com diversos moradores daquela localidade, o que rendeu-me certas amizades incluídas o Tomba. Nunca soube o motivo que o levou a ganhar esse apelido, seu verdadeiro nome era Claudio.

O homem era uma figura! Tinha aparência de resíduo de cabeçudo. --Com certeza o leitor não sabe o que significa a palavra, cabeçudo, além de cabeça grande. No passado o resíduo, ou seja, a borra do pó de café do café, permanecia no coador. No preparo de outro café a água quente era passada sobre aquela borra de pó aproveitando o que nela porventura restou de cafeína, só ai a água quente voltava ao fogo posto a ferver para o novo café. Coisa de gente sovina e pão duro. Esse processo era denominado tirar o cabeçudo do coador. Pois bem, essa era a cor do Tomba, cor de pó de café que se tirou o cabeçudo. incluído seu bigode que também tinha a mesma cor.Dando a ele uma aparência de homem mau,daqueles contratados como pistoleiros. Mas no fundo era uma alma de cordeiro coberta em pele de lobo.

Ao mudar para minha propriedade em 1966, deixei vários amigos no povoado da Extrema, incluído o Claudio vulgo (Tomba) que vez por outra me surpreendia com suas agradáveis visitas. Sendo ele o mais cordial. Certo domingo logo de manhãzinha, estava eu no curral ordenhando as vacas. Quando elas comeram a comportar de forma estranha como se estivessem assombradas. Levantei fui até cerca, percebi que o Tomba chegava à camisa rasgada em tiras, sem chapéu com o cabelo ouriçado parecido uma bucha de aço, com as costas manchadas de terra vermelha-,Perguntei:

--Que aconteceu Claudio, dormiu na marcela cara?

--Ua danada duna loba parida! Intrei dento da grota mode caçá cabo de inxada dei de testa cua diaba cum lubinho junto dela vançô nieu miti o chapéu na cara dela, ela mim isfregô nu barranco iue subi de fasto cuela mim babano inrribadeu só num murri purque nume era hora oia cumecotô turranhado--, bicha danada sô!

Eu segurando o riso ele percebeu.

-- Cêqué ri porrí só num contá puzôto pamode eze num mim chama de tomba lobo pruquê cum certeza queze vai omentà meu pilido num vai cê só tomba vai ê tomba lôbo!

--Ou que tal tomba lôba não era uma loba com lobinho?

--Pió ainda tomba lôba!

Anos mais tarde o pobre Tomba que era alcoólatra, amanheceu morto na escada da capela da extrema com o peito coberto de geada após gritar por socorro quase a noite inteira, e não apareceu um filho de Deus para salvá-lo, o pobre morreu por omissão de socorro de seu próprios vizinhos a quem ele tanto serviu!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 08/04/2013
Reeditado em 09/04/2013
Código do texto: T4230028
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