Último Tango Em Bangu.

Numa madrugada de 1958, na estação ferroviária de Bangu RJ, eu esperava o trem afim de ir para a rodoviária tomar o ônibus para Minas Gerais, regressando ao meu querido torrão, com vergonha de voltar com uma mão na frente e outra atrás. Na época havia uma charada sobre mineiros, mais ou menos assim: “ o mineiro heroico, é o que nunca saiu de Minas. O inteligente, o que saiu e nunca mais voltou, a não ser a passeio. O burro, o que sai e volta pedindo arrego”. Eu me considerava na categoria dos burros, sentia-me um fracassado, mas também queria o quê? Meu número era o 100, 100 instrução, 100 profissão, 100 dinheiro e 100 nenhum apoio.Era voltar a lida de lavrador nas terrinhas de meu pai.

No Rio tentei de tudo, sem nojo do trabalho, fazendo “bicos”, mas a Cidade Maravilhosa não simpatizou comigo, até para servente de pedreiro era difícil, só via escrito nas construções e canteiros de obras, “ não há vaga”. Naquela madrugada um monte de desilusões desfilavam em minha mente, foram quatro anos de sonhos desfeitos, tortura de amor e humilhações foi o que passei. De repente o rádio da lanchonete ali na estação tocou um tango, possivelmente interpretado por Francisco Canaro e que até hoje não sei o título da música, por coincidência narrava minha saga infrutífera. A letra da música parecia um lamento para quem estava terminando tudo, partindo ou coisa assim.

Aquela música misturou nos meus pensamentos e estacionou no âmago de minha alma, entrou pela corrente sanguínea e compassou meu coração, fazendo-me chegar ao ápice da emoção. Era qualquer coisa de divino misturado ás adversidades, mas trazendo-me calmaria na alma. Até hoje quando ouço o marcante tango me vejo na estação de Bangu, sentindo a brisa daquela madrugada roçando meu rosto. Meu alento naquele momento era chegar em Minas, abraçar e pedir a benção a minha mãe.

Hoje 2 -5 -2013, o melodioso tango, ainda está gravado em minha mente, ele é a trilha sonora da minha vida, parafraseado do filme, Último Tango Em Paris, me inspirou o título deste meu modesto conto.

Lair Estanislau Alves.