Boa noite , Brasil! - com Flávio Cavalcante
Eu tinha uns 9 anos de idade. Flávio Cavalcante , em seu programa "Boa noite , Brasil", certa vez lançou uma promoção de dar muito dinheiro. Funcionava assim: ele pegava num catálogo telefônico de algum estado brasileiro (sem o dizer qual era), e abria uma página aleatória. Nesta, ele escolhia um número, também à sorte. Discava e aguardava alguém atender.
Quem atendesse com a frase : "Boa noite, Brasil" , ficava rico da noite para o dia. Era dinheiro pra comprar a igreja e a prefeitura juntas, e criar galinha lá dentro! Um absurdo de dinheiro na época. Isto ao vivo para todo o país.
Em Guanhães, minha terra natal, só haviam dois canais que pegavam, Rede Globo e Tupi.
Então o povo todo ficava ali antenado no Flávio.
Quando ele discava, a gente já falava:
- Ninguém liga agora, o Flávio vai discar! Não pega no telefone! Olhaí!
Daí a pouco, alguém, no Brasil, ao vivo no programa , atendia. Uns responderam corretamente, outros se danaram e devem estar até hoje se corroendo.
Numa destas noites de quinta-feira, durante este momento de espectativa, o telefone lá de casa tocou. Só eu tava vendo TV. Gelei o sangue! Olhei de novo para a tela da TV, e lá estava o Flávio com o gancho na orelha , e murmurando : "Já está chamando... é uma casa no Brasil em algum estado..."
Peguei no telefone , e sapequei:
- Boa noite, Brasil ! - com uma alegria enorme.
E ouço a voz dele, pelo telefone:
- Boa noite, aqui é Flávio Cavalcanti. Você deveria ter dito "Boa noite, Brasil". É uma pena! Um abraço! - e desligou.
Entrei em pânico.
- Alô, eu disse Boa noite, Brasil! Flávio!!!! Boa noite , Brasiiiiiil!!!!!
- tum - tum- tum- tum- tum...
Quis matar o homem, jurei vingança! Eu havia dito a frase milionária e ele me sacaneou!
No dia seguinte é que a gente ficou sabendo que um dos irmãos Prado (Lelinho, Silvio, Márcio, não sei qual deles ao certo) havia gravado a frase a partir de um dos programas que foi ao ar num gravador de teclas , e aplicava na cidade este golpe, só pra rir da cara do fulano , no dia seguinte, contando que o Flávio Cavalcanti havia ligado e desonrado a palavra dele.