Sereia Iara

Outro dia estava conversando com o Caipirinha. Vocês sabem como elé é: contador de história, bom de prosa e nesse dia ele me perguntou se eu já tinha visto uma sereia.

- Sinhô! Vancê já viu uma sereia?

Craro que disse não! Nunca vi mesmo uma sereia! Por que? Você já viu? Preguntei...

- Não moço! Nunca de vi sereia não sô! Se fosse mentiroso, coisa que não sou, eu ia dizê pro meu Sinhô que já tinha espiado uma das grande, mas num sô homi de minti nem de inventá! Nunca de vi sereia não, Sinhô!

- Então por que você me perguntou?

- Bão! Me rrespondeu ele ...

- Quano o rio Sapezá inda de era um riozinho e ainda num tinha se virado num lagão como o Corumbá IV. Tava eu, de tardezinha, incostado num barranquinho tentano pegá uns pexe pra modi jantá mais a Maria, quano escurtei um piado gozado vindo do meio do rio e aquilo me deixou meio ancim ... curioso!

Quem ficou curioso com a história do meu companheiro Caipirinha agora foi eu. Conheço o Sapezal. Então lhe pedi para continuar ...

- Antão! Já meio arrepiado cuns baruio diferente na água, cumecei a expremê o zóio pra modi espiá mió os caminho do rio, quando vi, sentadinha numa pedra no meio do Sapezá uma muié. Êta dotô, era uma mué muito da sua bunita, com as coisa tudo mostrano. Um rosto bem alvim, os cabelo cumprido escorria ancim da cabeça inté as anca, loro que inté de parecia os fiapo de milho com uns fio de oro de tão briiante que era aqueles cabelo. Umas fulo vermeia trançada nos cabelo, uma lindeza que só veno?

Bão! Eu já fiquei mais curioso ainda e querendo saber o que aconteceu...

- Achei que era uma muié memo, mas vi que a tar tinha dos umbigo prabaxo uma carda de pexe das grande. Do jeito ca mocinha tava sentada parecia que tinha um pexão junto dela. O tar do rabo balanceava e batia nas água que eu fiquei inté sem sabê se aquilo era um pexe ou uma muié. Ou era uma muié cas carça de pexi ou um pexi cas parte de cima da muié. Num intendi mais de nada. Fiquei inté meio parado, queto, oiando aquilo sem mexê um tantinho ancim de mim memo.

Quer dizer então que você ficou parado como uma estátua? Encantado com o canto daquela mulher? Ou era um peixe? E o Caipirinha continuou...

- Num sei sô, mas que fiquei meio abobado, abestalhado com aquele canto bonito eu fiquei!

- Cuntinuei a zoiá ela e ela tava de lá, me zoiando, balançano cuns rabo, sentada nas pedra e cas mão ficava balanceando as água que arrodiava ela.

E então, Caipirinha! O que aconteceu? Continua! ...

- Antão! Se cuntasse a historia pra Maria ele num ia de acreditá memo, ia dizê que eu tava inventano coisa e ia acabá se rino e mangano de mim. Como já tava de ficano quase escuro, eu cum medo de ficá ali, causa de que as onça cumeça a caçá nas noite, e tinha que vortá, vi que levá pra mostrá pra Maria não tinha jeito, pois ela cismava de num pegá meus anzol. Antão, me arresorvi carregá ela de quarquer jeito memo e peguei minha pica-pau, levantei e mirei bem no meio do lombo dela e ...

- Ora! Sô! Que bestera que eu de tava fazeno! A tarzinha se virô, zoiô bem pra eu, escancarô cas cara mostrano um monte de dente bem branquinho, que inté o céu se crareô, me jogô um bejo cas mão, se riu pra eu, pulô nas água e sumiu!

- Inté hoje, todas as tarde, pertinho de escurecê, eu escurto o canto daquela danada.

Claro que fiquei curioso com a história, mas achando que era um pouco de mentira do Caipirinha, fiz de conta que acreditei.

- Pois é Caipirinha, que história né!

- É!... Respondeu ele e continuando:

- De que que nóis estava falano memo?

- Sobre sereia. Você me perguntou se eu já tinha visto uma. (respondi)

- Que nada homi. Isso tudo é história do povo. Sereia num existe memo!!!!!