O Urubu e o Gavião.

Minha mãe era semi analfabeta, nem sabia o que era literatura infantil e muito menos o que era Fábula de Esopo, mas tinha um vasto repertório de histórias infantis sobre animais que deixava-me encantado. Ela usava uma sagrada chantagem, dizia para a molecada:- “ se vocês não fazer as obrigações, logo a noite não tem história”. Aí a obediência era pra valer. É pena que à memória não segurou 40% de suas belas histórias. De vez em quando aflora algumas, principalmente quando ouço alguém contando mais ou menos o que ela contava. Aconteceu num buteco em Juazeiro do Norte no Ceará. Um Senhor contou uma história do urubu e o gavião ,não tão perfeita como a de minha mãe, mas serviu-me para lembrar com mais detalhe contada há 70 anos atrás.. A história surgiu quando comentavam sobre pessoas arrogantes. A memória reeditou-a. O Urubu e o Gavião.

O urubu estava muito triste pousado num galho seco de uma árvore morta. De repente pousa ao seu lado o gavião e o perguntou:- “ porque essa tristeza compadre urubu”? O urubu respondeu:- “fome compadre gavião, eu vivo das infelicidades, quando morre algum animal por acidente ou doença, então vira alimento, mas como não está acontecendo mortes, não tenho nada para comer”. O gavião todo metido e convencido disse:- “quando tenho fome, pego, mato e como”! Nisto passa uma juriti voando e o gavião:- “ vou passar essa gordinha no papo”! A juriti fugindo e o gavião atrás, voa para o alto de uma pedreira e o gavião na cola, de repente a esperta juriti entra numa pequena abertura entre unha de gato e taquaras seca, o gavião em alta velocidade vai atrás, mas felpas de taquara entrou em seu peito e atravessou todo seu corpo, então ele ali gritando de dor e com certeza da morte. O urubu pousou ao lado do agonizante e todo jubiloso disse:- “ foi o que eu te disse compadre gavião, eu vivo das infelicidades... Calma, vou esperar você morrer, esfriar, feder para depois te comer”. Minha mãe sempre explicava a moral da história, dentro de seus limites de linguagem.

Lair Estanislau Alves.