Meu Avô, Filipim

Di's que era um caboclo sistemático, meu avô Filipim, não cheguei a conhecê-lo. Era chapadeiro, nascido na beira do Santo André, ribeirãozinho singelo, onde só se pescava bagre, traíra e carazinho, que não dá nem uma 'chave'. Veio pequetito para o Urucuia, quando ficou órfão de pai e mãe, morar com um tio que também não conheci. Cresceu lidando com gado pé-duro no gerais. Virou amansador de burro bravo, era o melhor do vale do Urucuia. Veio então o casamento com minha avó, Felicíssima, filha do velho Zé Nenê, pioneiro no Urucuia, dono de terra que sumia das vistas. Ganhou um pedacinho de terra pra começar a vida e tocou a labutar. Dizem que era 'carne-de-pescoço', seu gadinho...só ele lidava, se vinha tocando da larga pela estradinha e alguém vinha em direção contrária gritava logo, autoritário, com sua voz esganiçada, "Cai fora!!!", e tinham que entrar no cerrado para ele passar.Se vinham lhe pedir fumo, não negava a ninguém, mas de suas palhas de milho, ninguém fazia um cigarro. Dizia que fumo era difícil,mas palha todo mundo tinha. Era caboclo obstinado. Em certa feita, amansando um burro pedrês, foi derrubado e caiu sobre um tronco de aroeira que tinha dentro do curral. Ficou mau. De lá pra cá, nunca mais foi o mesmo, sentia dores horríveis, num desses ataques de dor, foi levado ao Unaí e lá mesmo ficou enterrado, na beira do rio Preto, nunca mais viu o Urucuia. Meu avozinho, Filipim...

Geraldo Rodrix
Enviado por Geraldo Rodrix em 16/06/2013
Reeditado em 17/06/2013
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