O matador de Onça
Autor: José Gomes Paes
Em: 23/06/2013
Eu o conheço há muito tempo. Desembarcou na Vila, vindo em um barco que parou para comprar mantimentos no comércio do Dudu. E não mais foi embora. Arrumou logo amizade com os fofoqueiros de plantão, que dia de domingo ficam trocando conversas aqui e ali, visto que, domingo é dia visita a casa do Senhor, que castiga quem for trabalhar, pescar ou caçar. Começou a trabalhar de puxirum, depois de empreitada, guardou um dinheirinho até comprar o seu sitio.
Hoje ele tem suas plantações e criações de animais. Vive só, nunca arrumou uma mulher para viver e lhe ajudar. Homem trabalhador, corajoso e de pouca conversa. Eu até que tentei um chamego com ele, quando nós fomos a uma festa na casa do Rozendo, mas ele não quis, toma uma ou duas doses e pronto, só para esquentar o bucho. Dizem até que ele corta dos dois lados, mas eu não acredito, homem forte e calculista como ele, é que esse povo gosta mesmo é de falar dos outros e não cuida de sua vida.
Ele contou-me que já enfrentou onça só com seu terçado e que já havia matado 5 delas. A mata ele conhece cada palmo, não tem medo da mata, nem de noite, nem de dia. O seu cachorro Bonito (raça de pastor alemão com vira-lata), que o acompanha em todas as suas caçadas.
O seu sustento tira de suas plantações e dos serviços extras que aparece. Tem crédito aqui na vila, ninguém nega um fiado ao homem, ele é de palavra, se disser que paga tal dia, paga mesmo e nem um dia há mais, nem que seja com uns quilos de caça ou de peixe.
Está sempre em dias com seus apetrechos de caça e pesca, caniço, linha, anzol, tudo arrumado, a espingarda sempre oleada, encartuchada, a lanterna de 5 elemento e o terçado amoladíssimo. Essas são suas ferramentas de trabalho, por isso mantém tudo organizado. Entretanto o que ele gosta mesmo é de caçar onça com a sua espingarda, terçado e o cachorro Bonito.
Outro dia veio um fazendeiro que mora rio acima lá na cabeceira do Uatumã, contratá-lo para matar uma onça que estava comendo seus bois, pois o seu nome já havia se espalhado na redondeza. O cara pagou uma grana para ele, que aceitou o desafio. Passado 5 dias ele voltou com a bolada de dinheiro que havia ganho por ter morto a onça. Contou-me que pegou a carne de Caititu e preparou a armadilha, subiu numa arvore e ficou a espera da onça, quando de madrugada a bichona veio rosnando, chega o arrepiava todinho, mas não contou conversa engatilhando a espingarda e mandou chumbo, matando-a. Com essa já eram 6 onças que ele matava, essa era sua profissão, a qual exercia com coragem e determinação.
Pois é meu amigo, muita gente não acredita nas histórias que eu conto sobre ele, mas se você quiser saber mais, vamos lá que vou apresentá-lo, ele mora ali na beira do rio.
Chegando lá casa do dito cujo, uma casinha simples, coberta palha, ripada e parede de barro, limpinha, chamando-o: Zé, eu te apresento, este é o amigo que te falei Sebastião – o matador de onça. Assim eu conheci esse personagem incrível de muitas histórias para contar, que foi me apresentado pela Dolores, muito conhecida na Vila.
FIM