Jogo de Cintura

Depois de certo tempo de casado, não era mais o mesmo. Fábio, e ele odiava ter um nome popular, se via nas garras de Dionísio. Claro que naquele tempo, ele não entendia bem o porquê de estar daquela forma. Em seu pensamento só havia uma coisa: meu casamento só tem pão, falta o molho. Para os homens isso é horrível, porque eles são visuais. As mulheres odeiam, mas faz o quê? Quem pode mudar o curso de um rio?

Fábio achava sua mulher atraente. Mas, Sara, por sua vez, não fazia nada de diferente. Não colocava mais aquelas roupas sensuais que as amantes e namoradas costumam pôr para deixar o homem mais apaixonado; ela não o buscava com o ardor do começo do relacionamento. Os dias e meses foram se passando, a paciência de Fábio encurtando... E foi nesse momento que ele não aguentou e deslizou.

Primeiro saiu com uma amiga da empresa. Aí viciou nela, porque ela tinha um fogo arrebatador, coisa que Sara já não tinha. Era bom ter sexo na hora do almoço já que não teria de noite com a sua mulher. Depois foi uma meretriz; depois uma desconhecida num salão; depois uma pessoa do próprio bairro... Quando se deu conta do lodo em que se encontrava, não conseguia mais parar com as traições. Era gostoso! O sabor do pecado lhe envolvia e aquele marido cândido já não era mais maculado.

A mentira tem perna curta, assim diz o velho ditado. Por que seria diferente com ele? Ora, quem muito quer nada tem. E não demorou muito para que todas as traições viessem ao conhecimento de Sara. Desonrada, ela o deixou. É aí onde começou o verdadeiro martírio do traidor.

Comovido pelo sentimento de perda, Fábio faz de tudo para reconquistar sua ex-mulher como todo o homem faz, achando que ela o perdoará, porém sem êxito. Ficar sozinho era horrível. Por isso se deixou aprofundar-se mais e mais no jogo da conquista. Era legal ver as mulheres apaixonadas, desejando-o... Isso só provava que ele tinha capacidade e que outras pessoas poderiam gostar dele como Sara não fizera. Porém, quando chegava em sua casa e via o outro lado da cama vazio a dor vinha, o pegava de jeito, o abraçava forte e o chamava de meu amor assim como o Gollum.

Ele tinha se tornado um tafulão. Mas o que adiantava ser um tafulão vazio? Todo o seu conhecimento não lhe trazia o amor. Começou a perceber que as mulheres, que outrora eram apaixonadas por ele, somente o usavam para satisfazer seus próprias vaidades. Sentiu-se como ninguém. O que é ninguém? Pode-se quase dizer: o nada. E não ser ninguém e nada não muda tanto do ponto de vista psicológico de Fábio, o grande conquistador, segundo ele, de mulheres fáceis.

Em certa noite, pensando consigo, disse: olha onde vim parar: numa comunidade de relacionamento sério do facebook para tentar encontrar outro amor. É pior que levar um tiro na cabeça como as histórias de Nelson Rodrigues. Então, tomou uns cinco Fenobarbitais e dormiu com o mesmo vazio que sentiu desde que Sara fora embora.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 08/07/2013
Código do texto: T4377473
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