E a mãe não morria...

Sinhô da velha Lixanda era um rapaz já chegado na idade e com as faculdades mentais não positivas. Ele, a velha e um outro irmão tinham uma vida muito atrasada, isto é, parece que viviam no século anterior. Dentre algumas histórias contadas ao respeito deles aqui vai uma:

Lá para a década de oitenta do século passado, apesar de na cidade já haver luz elétrica, a casa deles nem isto eles pensavam em colocar. Pra não passar a noite na total escuridão eles acendiam um fogo no meio da casa. Lá para tantas da madrugada o fogo apagava, mas não havia problema já tavam pegado no sono mesmo.

Um dia, a velha adoeceu. E como todos sabemos, a primeira coisa que vai embora nestas horas é o sono. Nos primeiros dias quando a doença estava começando a velha não se importava muito quando o fogo apagava de madrugada. Chegava um cochilo e lá pras cinco da manhã, quando a velha dava por si, Sinhô e seu irmão já estavam fazendo o café preto, antes de irem molhar os canteiros de fumo. Passado algum tempo a doença foi aumentando e o medo de morrer também foi crescendo proporcionalmente. Ela foi suportando a escuridão até sentir que a sua hora de partir também tava já-já. E este momento para ela chegou naquela noite quando o fogo apagou.

--Sinhô, meu filho, bota uns paus de lenha no fogo, que eu não quero morrer no escuro!

Sinhô levantou, foi lá no muro trouxe uns gravetos e tornou aceder o fogo, e foi deitar novamente...

--Sinhô, meu filho, acende o fogo que não quero morrer no escuro...

Ele pensou que estava era sonhando com a voz da velha. Mas, não era, ela repetiu a mesma frase. Levantou-se novamente e jogou uns restos de gravetos que tinha deixado perto do fogo. O fogo clareou a casa e ele caiu no sono. Dormiu mais um pouco e a velha tornou a chamá-lo:

--Sinhô, o fogo apagou! Eu quero morrer no claro meu filho...!

Já fulo da vida, foi lá fora pegou lenha mais grossa, reacendeu o fogo e disse enfurecido:

--Oi, veia, eu botei muita lenha no fogo e ele vai ficar aceso por muito tempo. Se a senhora, não morrer até o fogo apagar e me chamar de novo, eu lhe Maaato!

(Causos de Barra do Mendes-BA, e de Barramendenses).

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reinaldo.s.barreto@hotmail.com