O FUNERAL DE SEVERINA

Severina era uma mulher de gênio forte. Criada numa família muito conservadora, ela nunca namorou e gabava-se de sua virgindade aos 63 anos. Alguns pretendentes surgiram em seu caminho mas ela sempre os afastou com seu gênio forte querendo tudo do seu jeito. Mas ela nunca foi contra o casamento.

Suas amigas de infância já eram avós e Severina continuava invicta.

Numa terça feira de junho Severina sentiu uma dor de cabeça muito forte, tomou um analgésico e foi dormir. Na quarta feira encontraram o corpo da donzela anciã já em estado de rigidez cadavérica. Celina, a amiga mais próxima falou para a mãe de Severina que a amiga lhe confidenciara um dia que tinha um caderno onde fizera os pedidos de como seria o seu velório quando viesse a falecer.

A mãe da falecida pediu ajuda a Celina e as duas passaram a vasculhar o quarto dela. Acharam numa gaveta da cômoda entre roupas íntimas um pequeno caderno que continha receitas de bolo, dicas de beleza, simpatias para casamento, bucho virado e mau olhado. Na última folha haviam instruções sobre os funerais. Celina ajudou dar banho na morta, usou um vestido branco conforme a vontade daquela finada, meia branca, sapatos brancos e no caixão branco recobriram o corpo de Severina rosas brancas e lírios brancos entremeados com galhos de melindro.

O pedido mais excêntrico foi o seguinte: “Desejo que comprem uma coroa de flores pequena e dois minutos antes de fecharem o caixão, quero que a minha melhor amiga (Celina) peque essa coroa de flores e chame todas as solteiras e viúvas para que se coloquem num só local. Em seguida, Celina dará seis passos e de costas para as mulheres e arremessará para trás a coroa.

Assim foi feito.

Celina jogou a coroa para trás, Iracema, uma moça desligada, quando percebeu que a coroa ia atingi-la, segurou a coroa no alto. Começaram os  rumores de que aquilo traria azar para Iracema, moça de 28 anos e que já fora apaixonada por vários rapazes, mas sem chegar ao casório.

Duas semanas depois do falecimento de Severina, houve um acidente com o caminhão que carregava boias frias para o trabalho rurícola e, Iracema e mais dois companheiros de labuta morreram.

No velório todos estavam circunspectos, ninguém ousava falar nada. Na mente de cada um a pergunta que ecoava era: “Quem será o próximo?”