Valha-me Deus

Estávamos nós lá no meio do cerrado.

Colhendo gabirobas.

Enchendo os caldeirõezinhos,esses bem areados.

Despreocupados da vida.Na maior prosa.

O sol ia baixando,um lindo fim de tarde.

Tudo tão tranquilo,até que ouvimos a Tonha dizendo aterrorizada:

-Valha-me Deus! De olhos arregalados fazendo o sinal da cruz.

-Valha-me Deus!+

Arrepiamos até a alma.Ficamos em silêncio.Paralisados.

Uma algazarra de gente,vinha em nossa direção.

Como se pegassem o rumo da roça.

E quanto mais se aproximavam.Mais sem cor nós ficávamos.

Até que:Os caldeirões voaram de nossas mãos.E cortamos o mato no peito.Num fôlego só.E ao passarmos por baixo da cerca.A quilômetros de distância,respiramos e olhamos pra traz.

-Valha-me Deus!como num coro ensaiado!-Valha-me Deus!

Em cima do murundu um homem de chapéu quebrado na testa.

Nos perguntou: -Onde vão assim.Com tanta pressa?

E no ar desapareceu...

-Valha-me Deus!

Nunca mais voltamos lá.Nem pra buscar os caldeirões.

E ninguém acreditou na gente.

Ainda hoje,quando me lembro.Arrepio até a alma.

-Valha-me Deus! Eram almas de outro mundo.

Ana Maria Cristina
Enviado por Ana Maria Cristina em 13/08/2013
Reeditado em 16/08/2013
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