Maria Sapeca.

É a lembrança de uma menina que me acompanha há mais de 70 anos. Era linda e chamava Maria. Tinha ela na época mais ou menos de sete a oito anos, cor de jambo, olhos esverdeados, sapeca e inocente. Eu tinha mais ou menos de seis a sete anos. Lembro-me que brincávamos debaixo de uma enorme mangueira no quintal da casa de seus pais, numa região conhecida por Córrego do Boi no município de Entre Folhas MG. A lembrança é a seguinte: Maria subiu num pé de manga, parecia muito alto, a confluência de dois galhos formava um assento relativamente bom, Maria levantou o vestido, desceu a calcinha, assentou-se como-se num vaso sanitário e de lá fazia xixi e defecava. A imagem nunca mais saiu de minha memória, enquanto a chuva de urina e toletes de excrementos caiam em grande velocidades, ela ria em gargalhadas.

Antes que a senilidade possa me atingir, deixo registrado em trova essa peraltice da linda menina nos idos anos 40. Em 1942 meus pais mudaram para bem longe, nunca mais a vi. Tínhamos namoricos de criança e o meu coração infantil ficou balançado. Eis a trova.

A saudade de uma época,

De um tempo que se foi,

Daquela Maria Sapeca,

Lalá no Córrego do Boi.

Lair Estanislau Alves.