A Ingenuidade de Zezinho

Zezinho corria pelo chão batido de seu povoado, o sol ardia no céu, já era quase meio dia e ele não comera nada desde o dia anterior.

Correu mais um pouco até chegar na casa de "Seu" Lúcio, velho rabugento e meio arrogante; ele encontrou-o sentado na frente de casa com um cigarro entre os dentes.

— Bom dia "seu" moço, comé que tá as coisas? — Perguntou-lhe Zenzinho.

— Vá se embora vá moleque, eu num tô pra conversa hoje não!

— Não, peraí moço, é que minha mãe e minha irmã tão com fome sabe, aí eu queria ver se o sinhô tinha alguma coisa pra nóis cumê.

— O velho olhou feroz para o garoto, depois para a horta de sua casa atrás de si, e depois de novo para o garoto.

— Ahh menino, vai pedir comida em outro lug... viu? Agora o cigarro caiu no chão, tá feliz?

Zezinho voltou desapontado pra casa.

Aquele era um povoado demasiado pobre, apenas "Seu" Lúcio era quem tinha uma vida "melhorzinha", sua casa era de tijolos, diferente das demais, tinha uma horta e algumas vacas, mas ele não compartilhava nada do que produzia, nadinha mesmo.

Naquela noite, Zezinho, sua mãe e irmã, tiveram de comer um pão durmido que um vizinho comprara na cidade.

Logo que o sol raiou nas montanhas, lá estava Zezinho outra vez.

— Ô "seu" moço, por favô! Na semana passada o doutô disse que minha irmanzinha tem que cumê, se não ela podia pegar essas moléstia que anda por aí.

O velho bufou, já estava cansado daquele moleque, mas não cedeu, não lhe deu um grão de arroz sequer.

Naquela noite Zezinho e sua família já não tinham mais nada para comer, ele tinha de fazer alguma coisa. E fez!

Esperou a noite cair, enquanto sua mãe e irmã dormiam, ele se esgueirava entre as casas de pau-a-pique até chegar a casa de "Seu" Lúcio, iluminada por dois lampeões na varanda. Pulou a cerca de bambu que protegia a propriedade. Logo começou a se apropriar dos alimentos da horta e depois enrolou-os em sua camiseta, mas quando já estava prestes a sair...

BLAM! BLAM! BLAM!

O velho disparou três tiros para o céu, o menino, dando-se conta de que fora descoberto desatou em fuga, pulou pela cerca, corría como um louco. Mas seu pé encontrou uma pedra no chão que o fez cair, e ao seu lado despencara uma ave do céu com um buraco de bala. "Seu" Lúcio se aproximava do garoto com um olhar duro e espingarda na mão, e antes que pudesse dizer qualquer coisa sobre o roubo ou dar-lhe umas boas cintadas, o menino, feliz, agarrou a ave pelas patas e disse:

— Eu só tava querendo umas cenouras, mas carne é bem mió! Brigado moço!

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 24/08/2013
Código do texto: T4448927
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