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O que pode ou não fazer um cavalo de três patas
 

 Sempre tive admiração por cavalos. São animas dóceis, imponentes e  fortes. Quando menina, eu cavalgava bastante.  Falarei, mais adiante, de um cavalo que poucas pessoas conhecem a sua história.
 
No início da década de 80, uma baiana resolveu realizar um de seus sonhos: ser bancária. Pois bem; fez teste em três instituições financeiras e obteve êxito em todas elas. Na sua trajetória profissional, seria seu segundo emprego, pois havia pedido demissão do primeiro. Sua mãe, que residia no interior, lhe alertou:
- Olha, filha, se você tiver dificuldade de trabalho, aí em Salvador, eu falo com meu irmão,  você vai para São Paulo. -  De pronto ela respondeu:
- Não, minha mãe!  São Paulo, não! Eu gosto de estar perto do mar.
 
Na realidade,  ela não queria mais dar preocupação aos parentes. E disse para si mesma:   “O primeiro Banco que me chamar eu vou.” Não demorou muito e foi admitida por um Banco, uma grande instituição  estrangeira, que  atuava há muito tempo no Brasil, cuja sexta filial era a da  Bahia – Filial 06. Isso foi motivo de muita alegria.
 
Essa cidadã que vou chamar de Beta, era muito dedicada. Logo no primeiro ano já recebera promoção. E, no ano seguinte, passara a compor o quadro de um dos departamentos mais cobiçados daquele Banco: o DAG – Departamento de Apoio à Gerência. Ali,  sempre instruída  por um advogado, cuidava de toda a  demanda da Carteira Jurídica.
 
Para que os funcionários do DAG tivessem  maior privacidade,  passaram a ocupar o mezanino daquele prédio de estilo neoclássico. E subiu toda a equipe.  Trabalhava-se muito, mas também havia diversão, principalmente no momento do afternoon tea (chá da tarde) ou  five o’ clock tea (chá das cinco). Esta memorável tradição  inglesa.
 
Beta, quando muito concentrada, tinha o hábito de tirar os sapatos e descansar os pés no carpete.  Numa tarde de sexta-feira, quase final de expediente, o ramal do seu chefe toca. Ele atende e diz para ela:
 
- Beta, o gerente quer falar com você.
- Tá bem, obrigada! – Diz ela. E, de imediato, procura o sapato do pé esquerdo, e  nada! Nem precisa falar que aquilo foi motivo de aflição.
 
Os minutos corriam, e ela “andarilhava” entre carteiras e arquivos  à procura do tal sapato... e nada! Chegou a pedir ao seu chefe que pelo amor que ele tinha a Deus, lhe ajudasse. Ele, friamente, lhe respondeu que não poderia fazer nada. E sugeriu que ela procurasse o cavalo de três patas (“aquele capenga da piada que você nos contou ontem”) e que fosse montada nele.
 
(risadaria total)
 
O telefone tocou pela segunda vez. O chefe atende e lhe diz novamente:
- O gerente pediu para você ir logo!
 
O desespero quase bateu.  E ela teve a ideia de ligar para sua colega da Carteira de Câmbio  e falou:
- Amiga, o salto do meu sapato soltou. A gerência quer falar comigo e não posso ir.
- Acontece que eu calço 37 e você 35. Não vou poder ajudá-la, infelizmente!
 
Beta colocou o telefone no gancho, já contando com uma carta de demissão. O pânico se avizinhou..., pois  naquela instituição bancária, de origem inglesa,  não era permitida tamanha indisciplina. Não atender ao chamado do gerente da filial, era uma afronta.  Daí  ela vira para o seu chefe e diz:
- Eu vou descalça, mas  vou!
- Vá! Só não sei se você volta mais. Falar com o gerente assim...   -  Disse ele, num tom muito sério.
 
Aquilo parecia o fim. Mas ela era uma sertaneja de fé. Quando ela sentou-se, com a cabeça apoiada pelas mãos, seu chefe abre uma das gavetas de sua carteira e diz:
 
- Está aqui seu sapato, moça! Bem guardadinho... E não tem gerente nenhum lhe chamando, não!   -  Sorrindo muito, acrescentou:
- Isso é pra você nunca mais contar piada de cavalo de três patas, aqui. Cavalo capenga, aqui, não tem vez. O cavalo símbolo deste Banco, que compõe o logotipo,  foi escolhido a dedo e passou pelo crivo da rainha da Inglaterra.
 
(gargalhada geral)
 
Só assim ela percebeu que foi vítima de uma pegadinha.  Lá adiante, na data do seu aniversário, recebeu um cartão de felicitações assinado por aquela equipe, cujo cavalo  desenhado só tinha três patas.  Era o seu cavalo alado.
 
Esse fato,  ocorrido há quase trinta anos, ainda  é motivo  para muitas risadas quando essas pessoas se encontram.
 
 
 
Imagem: Google.