O Bicão.

Bicão é o cara de conversa envolvente, é aquele sujeito nos bares e restaurantes serrando um copo de cerveja aqui, um cigarro acolá, um verdadeiro cara de pau, fazendo loas as pessoas, como se diz na gíria, ganhando na lábia.

Em uma cidade cortada por movimentada rodovia, vivia um manjado bicão, era conhecido como ponta de mesa, um jargão para os xepeiros oportunistas. Quando passavam por ali fregueses ocasionais a cervejinha e o cigarro estavam garantidos. Um belo dia dois senhores, aparentemente abastado ,falavam de selva e bichos, eram caçadores. De repente, o bicão entranhou na conversa sobre caçada, catedrático em mentir, isto é, conhecimento teórico de qualquer assunto, contou proezas sobre caçadas, selva e bichos selvagem. Impressionou tanto os ricaços caçadores que estes o convidaram viajar com eles para a selva Amazônica. Eram caçadores escoteiro, isto é, que casam sem ajuda de cães. Era os anos 60, para entrar na Selva Amazônica tinha que ter muita coragem e conhecimento. Só de pensar em ir para a selva, começou a tremer nas bases, desculpou-se por ter família para tratar exclusivamente do seu trabalho informal “biscate”. Mas os caçadores, não querendo abrir mão de um companheiro altamente (competente) propôs-lhe um dinheiro irrecusável, quantia que ele não ganharia em um ano de trabalho. A tentação pecuniária foi tanta que o bicão bravateiro pensou: “seja o que Deus quiser” e aceitou a proposta. Aventura em uma empreitada que ele não tinha a menor capacidade.

Viajaram uma semana de automóvel. Quando não deu mais em uma péssima estrada de terra, alugaram burros de carga e cavalos de montaria. Durante o percurso, já nas bordas da selva encontraram com um enterro de um caçador morto por uma medonha onça pintada, o bicão quase perdeu o fôlego. Ao chegar num descampado “uma abertura no meio da selva” levaram quase uma semana para construir um rancho para dormir em segurança. A noite com os miados, os alvoroços das feras o bicão quase borrava a calça.

Todo pronto, era hora de começar a caçada. No primeiro dia foi sozinho o caçador experiente, adentrou na selva pisando igual um gato quando quer pegar um rato, pisava nas folhas sem um mínimo de barulho. De repente viu relanceando por detrás de uma moita uma onça, aproximou-se pé anti pé, puxou o gatilho e a fera tombou. Os dois que estavam no rancho, foram em socorro ajudar buscar a caça.

No outro dia foi o outro caçador experiente. Matou uma maior e das mais brava.

No terceiro dia chegou a vez do bicão, seria o mesmo procedimento ,a hora que abatesse a fera eles iriam correndo para ajudá-lo a trazê-la. O coitado pegou a espingarda e adentrou a selva com o coração saindo pela boca, tropeçando, assustando quando de uma revoado de pássaros e quase sujava a calça. Nessas alturas a onça já percebera o desajeitado caçador, ficou de espreita atrás de um arbusto,, quando ele abriu as folhas procurando passagem, deu de cara com o carão da onça, ele caiu para um lado, a espingarda para o outro, levantou-se e pernas para que ti quero, ao sair no descampado, olhou e notou a porta do rancho que estava aberta, foi correndo, fez que ia entrar tirou o corpo fora, a onça entrou ele puxou a porta e prendeu a fera no rancho. Os dois caçadores que estavam atrás do rancho assustaram e perguntaram o que estava acontecendo. Com ar de ironia respondeu: “ peguei um gatinho pela orelha e joguei ai dentro do rancho, economizei chumbo,!” Foi para rio banhar-se, uma chusma de mosquito o acompanhava. Estava todo cagado.

Lair Estanislau Alves.