Uma ponte para o além

Seu Joaquim costumava tomar umas na barraca “pega-bebo” de Zeca da tripa. Não se sabia bem o porquê do apelido, já que esse era um petisco que ele não servia. Quincas, como era conhecido, andava num pangaré que se podia dizer: era mais saudável que o dono. Desmontava, apeava o cavalo e religiosamente sorvia sua pinga, sem esquecer-se da do santo. Ia até a porta e, entre uma conversa e outra, dava sua cusparada no terreno em frente. Naquela tarde, ele havia chegado mais tarde. À noitinha. Fez seu ritual e entre pedidos de desculpas pela pressa, embarcou na sua montaria desaparecendo mais rapidamente na estrada abraçada pela caída da noite.

Era uma estrada de terra. Barro vermelho! Embora sua cor não pudesse ser vista à noite. Vermelho à noite fica escuro. Reflete pouco à claridade da lua. Ainda mais numa noite como aquela, sem lua. Tinha era umas nuvens escuras que ainda tornavam mais solitário o trotar do animal. Quincas notou foi que ele estava meio xucro. Corria um vento frio e passou pela sua mente trechos das estórias de mau assombro que se contava daquela parte do caminho. Estavam próximos ao rio. Faltavam poucos galopes para atravessarem a ponte. O Cavalo parou. Quincas olhou para os lados, mas foi num ponto qualquer da escuridão que viu uma luz que aumentava e diminuía de intensidade. Apertou os calcanhares na barriga do animal para fazê-lo desempacar. Na medida em que andavam a luz ia se aproximando... Lentamente aumentando e diminuindo sua luz avermelhada. O cavalo assustado começou a galopar e a luz crescendo chegou a ficar bem ao lado deles. Subiram os pelos dos braços e do corpo todo! Uma voz muito grave se fez ouvir.

- Bá noooite! Aí foi um Deus nos acuda. Uma disparada no meio da noite como nunca se viu.

Só foi possível clarear os fatos uns 3 dias depois. Quincas, cortando caminho, nem passava na barraca do Zeca da tripa. No dia em que resolveu voltar foi o dia em que se encontrou com Dema charuteiro, que de vez em quando aparecia com seus charutos, mas já fazia uns 3 dias que andava na região e tinha gostado muito de ficar olhando a noite sentado na cabeça da ponte. Sentindo o aroma de seus charutos. Puxava e soltava a fumaça sem tragar. Fazendo uma luz amarela na escuridão.