Ribeirão das Neves: cidade hospitaleira

Ribeirão das Neves, cidade divisa de Belo Horizonte, é conhecida como “Cidade hospitaleira” por ter abrigado tantas famílias em suas terras.

Contam que, em meados do século XVIII, um córrego que nascia no Morro do Anil, próximo ao Bairro Várzea Alegre, e que cortava o centro da cidade, em épocas de frio, chegava a gear. Alguns pescadores que desafiavam o frio faziam fogueiras para se aquentarem e assarem alguns peixes fisgados. Numa certa pescaria, esses homens viram a imagem de uma “Santa” emergindo dessas águas, com uma faixa de neve em seus pés. O córrego passou a ser conhecido como “Ribeirão das Neves”, a santa como “Nossa Senhora das Neves”, tornando-se a padroeira da cidade que recebeu o nome do córrego.

O município é subdividido em três distritos: o distrito sede, Justinópolis e Veneza.

O Distrito de Justinópolis ou "Justino", como é popularmente conhecido, recebeu o derivado nome, em 1953, em homenagem a Antônio Justino da Rocha, próspero fazendeiro da região que doou o terreno para a construção da igreja, do cemitério e da escola.

O Nome Justinópolis, antes de 1953 foi efetivamente chamado de Campanhã e é até hoje qualificado pelo seu antigo nome, principalmente por parte dos moradores antigos.

Campanhã (campo) se faz jus, pois Ribeirão das Neves está numa região de forte apelo ao cultivo. Suas terras são boas tanto para o plantio, como também como produto para o artesanato, a argila.

Das mãos dos oleiros da cidade saíram muitos adornos que enfeitaram casas de fazendas e muitas residências pelo mundo afora. Paredes foram/são erguidas com os tijolos aqui produzidos, telhas para o teto dos lares, filtros para matar a sede das pessoas, tudo foi possível por meio das cerâmicas aqui produzidas.

De sua plantação de bambus, a família do artesão “Zé dos Balaios,” produzira uma enormidade de utensílios, feitos de taquara, como forração de tetos, cestos, balaios, sofás, mesas de centros... Verdadeiras obras de arte confeccionadas com muito esmero.

Um cinturão verde acolhe o município e de seu solo produtos hortifrutigranjeiros abasteceram os lares de muitas famílias destas Minas Gerais.

Famílias pioneiras e tradicionais como Nogueira, Abreu, Diniz, Andrade, Cerqueira, Avelar, Guimarães, Alves e Costa em Neves; Carvalho, Costa, Rocha, Menezes, Gomes, Lages, Matos e Corrêa no distrito de Justinópolis e Areias ajudaram a povoar estas terras.

Mas, não somente essas famílias escolheram a hospitalidade daqueles que aqui moravam, muitos imigrantes escolheram aqui para se estabelecerem.

"Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro?

é a massa dos infelizes?

Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco.

Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho.

Criamos animais, mas não comemos a carne.

Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa pátria?

Mas é uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho?"

(resposta de um italiano a um Ministro de Estado de seu país, a propósito das razões que estavam ditando a emigração em massa)

Italianos embarcaram no navio e rumaram para cá, dentre eles, uma família dedicada aos sabores da Itália – “Sapore di Itália”. Família voltada para a culinária italiana e aqui chegou, Sapore.

Reza uma lenda, do sec. XII, que numa região da Toscana, nascera um filho “ganhador e guardador de carinhos” – buonguadagno”. É, logo, um nome dado a um menino recém-nascido e desejado, para sublinhar que é ou virá a ser, por seus pais, um bom “guadagno” (ganhador). Daí a derivação da palavra da família Guadanini que também viera para aqui.

De outra região italiana, dedicada à atividade mercantil, usando das bancas para a venda de seus produtos e fazendo operações financeiras com o dinheiro dos clientes depositado em um banco, a família La Banca ( LaBanca), também chegaram a essas terras.

Piazza, outra família que aqui se alojara, teve no filho Wilson Piazza seu ilustre representante - inclusive chegando à Seleção Brasileira de Futebol, ganhando o tri campeonato mundial.

Outras como, Loffi, Catizani, Faluba também vieram.

O povo de Neves, muitíssimo acolhedor, deu à região do “Veneza”, logradouro às margens da Br, esse nome, por causa desses imigrantes italianos.

No centro da cidade, um bairro também surgiu em homenagem a esse povo; Savassi.

A presença dos Munhoz no Brasil é muito antiga. Teriam emigrado da Espanha só no séc.XVIII, e em melhores condições econômicas, aparentemente. A cidade portuária de Cádiz localizada bem ao sul do país, próxima ao estreito de Gibraltar, pertence à região da Andaluzia. Em 1755 ocorreu ali um maremoto, que quase acabou com a cidade.

Munhoz – munho – vem dos moinhos de vento que eram utilizados para a trituração de grãos de cereais no Campo de Criptana, na Mancha (Espanha).

Descendente da família Munhoz Pellucci, Ilka Maria Munhoz Gurgel, tornou-se símbolo das letras no município, sendo homenageada pós-mortem, como a Patrona da ANELCA – Academia Nevense de Letras, Cultura e Artes.

Efigênia Carlos Pimenta, professora, escritora (Zumbi dos Palmares) participou de vários movimentos pró-negros assessorando ministros, deputados na criação de políticas públicas, sendo patrona do Núcleo de Diversidade Étnico-racial que leva seu nome em Ribeirão das Neves. Ela também veio residir nesta cidade.

Mas, bem antes da Profª Efigênia vir aqui morar, no início do século passado, na segunda década, em Justinópolis, no local do Quilombo Nossa Senhora do Rosário, criou-se a Irmandade do Rosário e daí a Guarda de Congo ( composta por mulheres e crianças) e a Guarda de Moçambique ( composta pelos homens). A herança perpetuada pelos seus descendentes africanos no município passa de geração em geração com as apresentações folclóricas, religiosas de grande apelo cultural. Instrumentos musicais, canto, paramentos, teatro de bonecos compõem uma verdadeira memória viva da Irmandade.

Outra tradição legada pelos negros no município é o culto dos terreiros; dentre eles, Irmandade do Candomblé de Angola e do Terreiro de Umbanda.

Vindos do Japão, noutro navio, “Takahashi” e filhos, empregaram numa fazenda que começava após a região Norte de Belo Horizonte, Pampulha – “campo pedregoso” - em “Campanhã, campo de cultivo” - que se se embrenhava por Venda Nova, Justinópolis e Areias .

Ali “Seu” Takahashi cultivava arroz e criava carpas. O Governador de Minas (Presidente de Minas) Benedito Valadares, passava horas de lazer, apreciando a cachaça produzida na região de Neves, grande produtora de cana de açúcar naquela época – também mandioca e milho, e saboreando as iguarias da comida japonesa, Sashimi e Sushi, preparadas pelo vovô japonês. Neves foi a primeira cidade da região a servir essas iguarias da comida japonesa.

Sashimi é uma iguaria da culinária japonesa que consiste de peixes e frutos do mar muito frescos, fatiados em pequenos pedaços e servidos apenas como algum tipo de molho no qual pode ser mergulhado ( geralmente “shoyu” e gengibre ralado).

O sushi, ("Risoto Japonês" ) tradicionalmente, é feito com arroz temperado com molho de vinagre, açúcar e sal, combinado com algum tipo de peixe. A tradição japonesa é de servi-lo acompanhado de wasaki (pasta de raiz forte).

Senhor Takahashi, fixando residência em “Areias”, dedicou-se ao plantio das hortaliças e flora. Ainda hoje se vê muitas hortas familiares na região e grande cultivo de orquídeas.

A 27 de março de 1924, um ofício da Penitenciária da antiga Câmara de Contagem, informava ao Secretário da Agricultura que duas fazendas do Município, a de Neves e a de Mato Grosso, se prestavam admiravelmente para a instalação de uma Colônia Penal Agrícola.

Em 1938 é inaugurada a Penitenciária Agrícola de Neves, que projetou o município internacionalmente, sendo inclusive considerada como sistema carcerário modelo na América Latina.

Como almoxarife nesta penitenciária, PAN – Penitenciária Agrícola de Neves, Dr. José Maria Alkmin, o pai de Henfil, veio trabalhar e tendo seu filho ilustre, aqui nascido.

Nesse momento em que recordamos do AI-5 Ato institucional nº 5, completando 50 anos, temos que realçar a presença, em nosso município, de uma pessoa que viveu aquele pesadelo, Dr. Michel Marie Le Ven, professor de Sociologia da UFMG e da sua esposa Drª Roseli Augusto, Profª de Psicologia Social da UEMG. O casal veio aqui morar.

O professor franco-brasileiro Michel criou a Rede “Nós amamos Neves”, além de ter editado livros, sendo um deles “Dazinho: um cristão nas minas”.

Jairo Azevedo, por meio da Promoção Humana Divina Providência, ergueu a Cidade dos Meninos que abriga perto de 3.000 alunos em suas oficinas e na educação básica.

A Cidade dos Meninos São Vicente de Paulo possui um sistema de internato e semi internato para seus alunos. Ali, aqueles alojados só saem aos sábados para visitarem seus parentes, retornando aos domingos para o pernoite. Mais de 3.000 refeições são fornecidas gratuitamente aos alunos e ao pessoal do quadro de funcionários. É uma entidade filantrópica e sobrevive de doações.

Palavras-chave

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