JOÃO COITADO E A GALINHA DO VIZINHO

A oferta de mão de obra em excesso somada ao período da entre safra nas lavouras de subsistência, foi sempre à justificativa apresentada ao sogro pelo João Coitado quando este o chamava atenção por não cuidar da família com o mínimo necessário para sua sobrevivência.

Trabalhava dois quando muito Três dias, sempre no final da semana. Segunda dor na cacunda terça dor de cabeça quarta o patrão me farta. Na quinta sexta e sábado a enxada não tinha cabo, e assim entrava o mês, findava o ano e a vida, João Coitado ia levano.

Certo dia a coisa ficou preta a fome apertou. Estavam sentados na cozinha de seu pobre casebre a mulher suas três crianças e ele. Eis que de repente cacarejando apertada para por seu ovo, entra uma galinha do vizinho a procura de um ninho, ele apontando pra ela diz pra mulher:

-- Ê se a gente tivesse coragem comia essa danada!

-- Mal fechou a boca à mulher zás! Pegou a penosa e faca nela. Um belo e saboroso ensopado saciou a família. O cheiro das penas queimando despertou a suspeitas no vizinho.

No dia seguinte La estava o João Coitado vendo o sol nascer quadrado e chorando igual uma crinainha. O pobre homem ficou arrasado não sabia onde enfiava a cara. E ainda para completar sua decepção, como castigo, o militar o colocou para carpir a rua defronte a delegacia. Quando o Liberaram ele passou no seu casebre e disse para esposa:

Oia muié ieu tô ino ranja um lugá pamode nois morá num vô vortá aqui dijeito ninhum num tenho coraje saí na rua mais não.

Estava eu carreando lenha numa carvoaria nas proximidades da Extrema, quando me aparece ele, o João coitado, que por sinal era meu compadre.

-- Bom dia compadre João --, o que aconteceu homem pra que ta chorando?

-- Ieu tô morreno de vergonha drumi na cadeia mode ua danada dua galinha qui nois cumeu. Nunca pensei fazê ua coisa dessas, mais cus minino chorano de fome pirdi a idéia e acabei mandei a muié mata ela pra nois. Mim pusero mode capiná rua tem base. Me sortaro passei incasa e mandei a muié e muntuano nossos cacos e falei qui vinha arrumá lugá e manda busca eze. La ieu num tenho coraje de í mais não.

-Ocê pelamor de Deus me arruma lugá de morá e sirviço ieu priciso mudá minha vida.

--Compadre João eu tenho um rancho desocupado, preciso de alguém para trabalhar, mas é pra trabalhar, você não costuma trabalhar a semana toda e assim fica difícil. Vou buscar sua família conforme você está querendo, vou dar uma chance a você. Olhe bem o que está me prometendo.

E assim eu dei a ele uma oportunidade, mas infelizmente o homem era de fato um caso sem solução.

Na próxima semana falarei mais sobre ele.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 30/09/2013
Reeditado em 04/06/2014
Código do texto: T4504600
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