JOÃO COITADO E SEU ESTIMULANTE SEXUAL

Meu compadre João estava de fato arrasado, por ter surrupiado a galinha do vizinho. Olho vermelho cabisbaixo e deprimido recusou a me acompanhar no transporte de sua mudança

Por mais que insisti não consegui convencê-lo:

--Caramba a mudança é sua compadre, você como marido tem que ajudar sua esposa cara!

-- Ocê fais isso pra mim, ieu num tenho coraje de incará aquele ome dono da galinha não. Socê o topa pur lá fala cuêle qui ieu vô só isperá a coisa miorá pra mim, ieu vo paga ele. Se ripindimento matasse ieu já tinha era murrido. Tô cua vergonha danada num ponho o pé La tão cedo

Embora o trajeto fosse de apenas doze quilômetros, a péssima condição da estrada tornava a viagem demorada. Apanhei meu jipe passei na casa de meus pais, um de meus irmãos, que sempre foram muito prestativos se ofereceu para transportar seus pertences de carro de boi.

Colocamos sua mudança no carro, a mulher as três crianças e eu, seguimos de jipe. Uma pobreza tanto material como espiritual. Era difícil não ter compaixão daquela gente, O triste nível de pobreza era o patrimônio daquela família.

Levei-os até minha casa, estavam famintos que dava pena. Minha esposa preparou-lhes uma refeição, o compadre já a havia feito a dele, e tratou da limpeza de sua nova moradia. Um casebre simples de pau a pique e chão batido, mas bem superior ao que ele deixou no Engenho.

A cinqüenta metros abaixo um rego de água corrente pura e cristalina margeado por um abacaxizeiro cultivado pelo proprietário anterior, do qual nós adquirimos a fazenda. A estrada que dava acesso ao distrito do Engenho situava entre a moradia e curso d’água que adentrava numa densa mata virgem nativa. Atualmente uma reserva ambiental com sua diversidade de arvores centenárias. Habitada por um numeroso grupo de macacos, que também fazia, aliás, ainda faz parte do cenário aonde meu compadre se instalou. Teria ele tudo para se dar bem na vida se realmente fizesse jus a oportunidade que a sorte colocou ao seu dispor, e se ambos, marido e mulher tivessem coragem e disposição para o trabalho. O local era excelente para uma horta doméstica, esterco estava à disposição no meu curral. Mas a verdade é que eles não quiseram aprender a pescar. Preferiam viver de migalhas do pescado alheio que lhes eram ofertados.

Filha de um carpinteiro criada sem mãe, à pobre mulher não aprendeu, nada da lida domestica tão necessária a uma dona de casa. Minha esposa e eu tentamos em vão, colocá-la no trabalho. Mas faltava-lhe coragem, fazia tudo mal feito. Na lavagem de roupas, por exemplo, apenas misturava a sujeira das peças.

Nas primeiras semanas João Coitado estava animado, melhorou a aparência e a auto-estima, mas não tardou começou a falhar ao trabalho. Sempre apresentando uma justificativa diferente.

Tentando ajudá-lo levei a ele uma galinha choca com doze ovos, aninhada num caixote para que começasse uma criação de aves. Vencidos os vinte e dois dias tempo suficiente para o nascimento dos pintinhos, perguntei minha comadre a respeito da ninhada, se haviam eclodidos todos os ovos:

--Nem te conto cumpade cenadivê cu Joãozinho cumeu até o derradero dosôvo, dispois ieu vô devorvê a galinha proceis sinão acaba ele cumeno ela tamem. O úrtimo ovo já cupinto grande, ele tacô na panela rumô pimenta e farinha e mando na barriga. Tudo curpa da marvada da pinga.

( Continua a próxima semana)

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 07/10/2013
Reeditado em 07/10/2013
Código do texto: T4514711
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