MEU AMIGO “BEETHOVEN” Por: Maj BM Lindoval Rodrigues Leal

MEU AMIGO “BEETHOVEN” Por: Maj BM Lindoval Rodrigues Leal

A internet aproxima pessoas - Isto é uma realidade incontestável! Não há como negar. Para minha surpresa, na semana que passou, reencontrei neste mundo cibernético um amigo de turma do Curso de Formação de Oficiais Bombeiros, que não tinha mais contato desde a nossa formatura em novembro de 2002. Ele foi um dos primeiros que fiz amizade quando do início do Curso de Formação de Oficiais-CFO, no início de 2000 no Instituto de Ensino de Segurança Pública-IESP, em Belém-PA.

Dono de uma inteligência ímpar, bom senso de humor e explosivo às vezes, sempre esteve presente quando necessitávamos de algum auxílio nas matérias de exatas, que eram pra nós rondonienses o nosso “calcanhar de Aquiles”. Seu jeitão de jovem descompromissado e de contestador com as regras do militarismo que estava conhecendo, deixou saborosas estórias no decorrer dos três longos anos de curso.

Pra começar, ganhou logo apelido de “Kara de Cachorro Beethoven”, batizado com muita “encarnação” por outro amigo – o “Kachorro Doido”, devido a semelhança da sua fisionomia com o canino do filme infantil. “Beethoven” sempre teve participação em situações no mínimo engraçadas.

A primeira que eu me lembro, estávamos ainda na primeira semana de adaptação na famigerada “quarentena”. O Coordenador do CFO, com a sua rigidez que lhe era peculiar, tinha explicado todas as nuances da vida castrense, principalmente no que tangia a hierarquia e disciplina. Explicara que o Aluno de Dia (Xerife), era a autoridade máxima; “o maioral”; “o bicho da goiaba” a qual os outros cadetes deviam obediência pronta as suas ordens. Os “novinhos”, iniciantes no mundo militar levava tudo muito a sério, quando investidos dessa autoridade.

Naquele dia, a “Xerife” era a “Pézão” que estava mais Caxias do que o Duque de Caxias! Chegou no saguão do alojamento e deu de cara com o “Beethoven” dando bobeira por lá. Numa olhadela rápida, viu que o espaço estava sujo e necessitava de uma faxinosa, e de pronto se dirigiu ao nosso personagem:

- Cadete esse espaço está um lixo! Arrume um material e dê um trato aqui, antes que o coordenador do CFO venha fiscalizar! Sentenciou com a autoridade do Xerife!

- Como é que é ?!?!?! – Respondeu “Beethoven” já puto da cara! – Vá dar ordens aos seus neguinhos, não estou escalado!

- Não pondera cadete! Sou a Xerife e posso te escalar e se não obedecer vou te lançar no livro! – Vociferou a “Pézão”.

- Pode lançar! Disse o “Beethoven” em tom desafiador. Eu quero é que se F...!

Resumindo: A “Pézão” lançou no livro e o cadete ponderão que já estava preso na quarentena, teve que limpar além do alojamento, ainda os banheiros por uma semana, depois de levar um sermão de pé da orelha do Coordenador do CFO.

Doutra feita, ainda na quarentena, os Cadetes foram convidados a montar um time para participar de uma confraternização no Clube dos Oficiais do CBMPA. Metido a boleiro, “Beethoven” foi um dos primeiros a fazer parte do escrete da academia para fazer frente a outras equipes do CBMPA.

No dia marcado, estávamos todos lá e de cara na nossa chave, encaramos uns times de GBMs os quais vencemos com louvor e para nosso azar, para decidir quem passava de fase, tivemos de enfrentar o time formado por Coronéis do CBMPA, que haviam vencido uma e empatado outra. Portanto, chegamos com mais pontos para a decisão da chave.

Fomos para a partida que ao final chegou empatada! Como não havia regulamento, o Coronel mais antigo, em tom direto e com autoridade decretou: - Fica o time dos Coronéis! Fora o time dos cadetes!

- Mas como!? Retrucou o “Beethoven”! Nós ganhamos todas e vocês empataram uma, então somos nós que temos de ficar!

- “Vocês” não!!!! É “senhores”, cadete abusado!Você tá louco questionando um coronel?! Respondeu o superior já espumando pra cima do “Beethoven”.

- É que lá no meu bairro, nas nossas peladas, quem vem ganhando todas é quem fica! É o justo! Disse “Beethoven” tentando argumentar!

- Ah é!!! Respondeu o Coronel! Aqui você está no meio militar e o que manda aqui é a antiguidade! Antiguidade é posto! Ainda não te ensinaram? E continuou: - Aguarde que o que é seu está guardado, seu Cadete ponderão rebarbado! Vou de pronto informar a coordenação das suas alterações aqui! Complementou o Coronel.

No dia seguinte, só deu o “Beethoven” se lamuriando por ter recebido punição a perder de vista em virtude do famigerado jogo.

Durante o decorrer do curso, tiveram várias outras estórias do meu amigo “Beethoven”, que contarei em outra oportunidade!

O que ficou desses velhos tempos, foi uma amizade que quero aqui reafirmar! “Beethoven” sempre foi companheiro de todas as horas, inclusive quando saboreávamos uma “gelada” ou quando juntos torcíamos pelo “Papão”, já que era e é torcedor fanático do azul e branco.

Velhos tempos!