ZÉ DOS DITADOS

Zé era um cara até legal.

Amava de paixão os ditados populares.

Fazia de muitos sua filosofia de vida.

Adorava uma prosa e ia encaixando sua sabedoria

proverbística nas conversas.

Tinha até um caderninho onde anotava seus preferidos.

Demonstrava uma sabedoria e cultura que nem tinha

tantos eram seus ditados decorados.

Centenas e centenas, decerto.

Alguns até achavam ele chato.

Independente do assunto e da prosa

lá estava Zé com seu corolário sabedorístico.

Às vezes até metia o bedelho em prosa alheia pra poder

palpitar com suas filosofias.

E odiava se alguém dizia...

“Aqui sapo de fora não chia.”

Um dia alguém comentou:

- Gente, como tá chato o Zé com essa mania.

Vi numa reportage que isso é uma tar de TOC...

Transtorno Biçeçivu Cumpursivu. Que isso carece

de tratamento.

Falaram com o Zé e ele não concordou , claro.

-Largadeu, sô. Nunca oviro falá que "cada loco com sua mania"?

E lá ia o Zé com seus “Deus ajuda quem cedo madruga”,

só não dizia que o cara fica com sono o dia inteiro, ou

“Onde comem dois, comem três”. A parte do comem menos

ele pulava. E muito outros seguiam.

Um dia, Zé estava triste, troncho, cabisbaixo, desanimado, desacorçoado, abatido... Nenhum de seus ditados parecia

conseguir ajudá-lo.

Um amigo, ao vê-lo assim, pergunta:

-Por que tu tá assim tão macambúzio, Zé?.

E ele respondeu:

- Minha maré num tá pra pexe. To fu... e mar pago...

To sem dinhero, cheididívida, a múié foimbora,

a fia imprenhô e nem sabem quem é o pai da criança,

meu fio assumiu a baitolage, secô o leite da vaca,

o cavalo fugiu do pasto....

-Calma Zé. Sempre tem uma luz no fim do túnel.

– disse o amigo.

Os olhos do Zé brilharam...

- Como? Sempre tem uma luz no fim do tunel?

Esse ditado ele ainda não conhecia.

Rapidinho anotou no caderninho.

E lembrou que ali perto tinha um grande túnel.

E lá foi ele confirmar a veracidade da tal ditado.

É não é que tinha mesmo. Lá estava a luz.

Emocionado correu ao encontro dela.

E a luz veio ao encontro dele.

Era um trem em alta velocidade.

Atropelou o Zé e o jogou lá na frente.

E depois passou por cima, fazendo picadinho dele.

Foi sangue e pedaço do Zé pra todo lado.

Nem se passasse o Zé num processador ele

ficava tão moído.

Deu um trabalhão pra catar o Zé.

Era pé prum lado, orelha pro outro e dedos

ele tinha vinte. Então era dedo pra tudo

quanto é lado. Tem pedaço que até hoje

não foi encontrado.

Com muito custo conseguiram juntar o Zé

num daqueles sacos pretos.

Muitos dizem que foi suicídio.

Mas eu garanto que não foi.

...

É que eu já estava cansado desse causo.

E mais ainda do Zé com seus ditados.

Então decidi acabar com tudo. Eu posso.

Sou o autor, esqueceu?

O Zé não cometeu suicídio.

Ele é só personagem fictício.

Fui eu que "matei" o Zé.

E como viram, matei bem matado.

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Por falar em ditados populares...

...

Estavam à mesa do jantar, o pai, a mãe

e os dois filhos. Um já grandinho e o

outro menorzinho.

A mãe disse ao pequeno:

- Juninho, por favor, busque três latinhas

de Coca Cola na geladeira pra mamãe?

O grandinho malandrinho já tinha bebido uma

e escondido outra atrás de uns pés de alface.

O pequeno, abriu a geladeira, olhou e de lá gritou:

- Mãe! Só tem uma!

...

Dizem que foi assim que nasceu esse famoso ditado:

“Mãe só tem uma.”

= Roberto Coradini =

25//11//2013